Zoom | Review

Zoom nasceu quando o produtor canadense Niv Fichman entrou em contato com Pedro Morelli, desafiando o jovem diretor brasileiro a entregar um projeto “original”. Os dois se conheceram quando trabalharam em Ensaio Sobre a Cegueira (filme dirigido por Fernando Meirelles, que também é um dos produtores de Zoom). Morelli já havia sido codiretor do longa Entre Nós, que teve seu pai, Paulo, como diretor principal. Em seu primeiro filme internacional, Pedro e o roteirista Matt Hansen (que trabalhou na Marvel Canadense), não trazem um trabalho totalmente original, mas que é repleto de ousadia. O roteiro tem profundas inspirações nos longas de Charlie Kaufman, principalmente Adaptação (2002). Já a parte técnica abusa da rotoscopia, prestando de certa forma uma homenagem a Waking Life, do renomado diretor Richard Linklater.

Zoom nos apresenta três personagens principais e três histórias que num primeiro olhar não possuem nenhuma ligação. Edward (Gael García Bernal) é um vaidoso cineasta que precisa refilmar o final de seu filme, mas esconde um segredo; Michelle (Mariana Ximenes), uma aspirante a escritora, foge para o Brasil e abandona sua antiga vida como modelo; e, por fim, Emma (Alison Pill), uma jovem que trabalha em uma fábrica de bonecas sexuais (além de ser quadrinista nas horas vagas) que quer remover um malsucedido implante de silicone. Mas esses três estão mais do que conectados e de uma forma inusitada: Edward está dirigindo um filme que tem Michelle como personagem principal. No filme, ela está escrevendo um livro sobre Emma, que por sua vez criou Edward em uma de suas histórias em quadrinhos. Deu pra pegar a ideia?

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Essa mistura de histórias é a alma de Zoom, apesar de nem todos os núcleos possuírem o mesmo charme. Edward e Emma herdaram as cenas mais interessantes, já Michelle passa a sensação de que poderia ter algo a mais para oferecer. O longa também possui algumas discussões interessantes. O diretor que quer fugir dos blockbusters americanos e mostrar que também sabe fazer arte serve como uma crítica a uma Hollywood acomodada no sucesso de super produções. Ir na contramão desse movimento nem sempre é bem aceito pelos chefões dos estúdios. A mulher comum em busca do corpo perfeito, bombardeada pela ideia de que o simples nunca basta. Do outro lado está a modelo que poderia ter tudo que quisesse, mas que cansou de ser apenas um corpo e um rosto. Tentando deixar de ser um “nada”, ela vê na literatura uma forma de preencher um vazio que sempre incomodou.

Cada personagem é dependente do outro, o que permite que exista uma brincadeira de quem é o “Deus” da história, aquele que detém o controle de tudo. No meio de tantas interferências, o roteiro acaba se perdendo, mirando em alvos que não conseguem ser atingidos. É nesse ponto que o jogo de cintura de Pedro Morelli ajuda a deixar a história um pouco mais pé no chão, até onde isso é possível.

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Zoom é de uma qualidade técnica incrível, misturando a rotoscopia, um jogo de câmeras ousado e uma bela fotografia. Infelizmente possui alguns defeitos pontuais que o impedem de atingir todo o seu potencial. Mas nada que não permita que o público se divirta. Para o seu primeiro trabalho internacional, Pedro Morelli mostra que tem um interessante caminho pela frente.