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Crítica | Vidro (Glass) | Sem Spoilers

M. Night Shyamalan dá forma ao seu universo de heróis e vilões em Vidro (Glass), proporcionando também um respiro de qualidade aos filmes do seguimento

Seria uma missão difícil para Vidro (Glass, 2019) ter o mesmo impacto de outrora em relação aos filmes de super herói. Quando começou, lá em 2000, com Corpo Fechado, M. Night Shyamalan mostrou um mundo pouco explorado no cinema até então, que é a importância das histórias em quadrinhos na cultura dos Estados Unidos. Àquela altura, já tínhamos alguns filmes de heróis famosos como Batman e Superman lançados, mas nenhum deles discutia tão profundamente as questões concernentes a esse universo como o quase estreante cineasta, que há pouco tempo tinha mexido com a cabeça do mundo inteiro com O Sexto Sentido.

Veio então Fragmentado, trazendo desempenho soberbo do ator protagonista e uma enorme surpresa: o filme habitava o mesmo universo de Corpo Fechado. Pouco tempo depois veio o anúncio de Glass, e as expectativas em torno da trama envolvendo nomes tão incríveis foram lá no alto.

A princípio, o roteiro nos entrega apenas o que é prometido nos trailers. Vemos David (Bruce Willis), com suporte do filho, atuando como vigilante pela cidade, tendo como principal objetivo impedir a Horda (James McAvoy) de cometer mais crimes, pois muitas garotas têm sido encontradas mortas. O confronto entre os dois acaba levando-os ao hospital psiquiátrico onde Elijah está há muito tempo.

Esse processo não é necessariamente algo ruim, pois é nele que vemos personagens queridos reaparecendo e interagindo, como Casey (Anya Taylor-Joy), única sobrevivente dos desdobramentos de Fragmentado; Joseph (Spencer Treat Clark), o agora crescido filho de David e a mãe de Elijah (Charlayne Woodard). Cada um deles é a versão suporte dos principais, que são os personagens de Bruce Willis, James McAvoy e Samuel L. Jackson.

A principal chave do filme está na personagem de Sarah Paulson, a doutora Ellie Staple. Sua missão é convencer os três de que eles não são poderosos coisa nenhuma, e que tudo o que aconteceu de insólito até então na verdade são fatos devidamente explicáveis pela ciência. Esse é um movimento de Shyamalan que julgo arriscado, pois parece redundante, depois de dois filmes e tanto, tentar levantar uma suspeita com o espectador sobre a veracidade dos fatos. Obviamente, o diretor não gosta do óbvio e isso é apenas uma ferramenta de algo grandioso, mais ainda do que os personagens principais.

As atuações estão muito condizentes com o que já foi mostrado anteriormente pelos atores. Willis é o mais prejudicado aqui, pois sua personalidade não se destaca muito quando temos a onipresença de Lee Jackson em cena, além da loucura que é a participação de McAvoy, interpretando diversas personagens e dando show novamente.

O lado negativo disso tudo é a insistência de diálogos referenciando histórias em quadrinhos. Alguns desses momentos são necessários para a história, mas outros poderiam ter sido deixados para a subjetividade da cena. Mas não é algo que irá atrapalhar sua experiência.

Há espaço para esse universo continuar, mas não acredito que seja uma intenção de M. Night Shyamalan. Com Vidro, o diretor conseguiu dar uma cara mais decifrável ao seu universo de heróis. Shyamalan provou mais uma vez estar em boa forma, mas voltar a contar histórias aqui não deve ser sua prioridade.