Crítica | Um Lugar Silencioso: um suspense que vai te colar na cadeira

Longa usa linguagem cinematográfica de qualidade para contar uma história intimista e assustadora

O gênero de terror está revivendo nos cinemas, depois de obras como A Bruxa e Corra! saindo nos grandes cinemas e fazendo sucesso de público e crítica, cada vez mais filmes de qualidade estão saindo. Um Lugar Silencioso, apesar de ser mais um suspense do que um terror, traz muitos elementos desse tipo de filme, com fortes elementos de drama.

Um Lugar Silencioso tem em sua direção John Krasinski (The Office), dirigindo e atuando como o pai de uma família sobrevivendo em um mundo pós-apocalíptico. Ele e sua esposa, interpretada por Emily Blunt (No Limite do Amanhã), precisam proteger seus filhos e encontrar formas de sobreviver em um mundo tomado por criaturas que atacam a qualquer sinal de som, fazendo com que eles procurem estratégias de comunicação silenciosas para sobreviver.

Várias decisões de roteiro e direção deste filme são sensacionais. Inicialmente, por trazer uma história que já está se passando em um mundo que foi tomado por esse problema, o filme não perde tempo introduzindo ou explicando muito bem a ameaça, no lugar disso ele coloca dicas visuais sobre o que aconteceu e você vai montando o quebra-cabeça para descobrir como eles chegaram até ali. Por falar em soluções visuais, o problema do filme exige que os personagens se comuniquem com o mínimo de diálogo possível. Deve ser um dos filmes após o cinema mudo com menos diálogos já feitos, mas tudo é dito com muito pouco. Cada efeito sonoro, a trilha sonora colocada no lugar certo, expressões faciais, detalhes no cenário e poucos diálogos já são mais do que suficientes para você entender todo o drama e sentimentos daqueles personagens, consequentemente se importando com eles.

Outro aspecto que gostei bastante é o escopo pequeno da obra, nós não acompanhamos o exército ou o governo tentando resolver um problema global, a gente acompanha somente uma família tentando sobreviver a um evento específico. Cada personagem tem o seu miniarco dramático e você entende cada um até o fim. Uma das personagens, por exemplo, é surda (Millicent Simmonds). Ela tem uma culpa muito grande dentro de si que carrega o filme todo e esse arco dramático que é fechado de certa forma.

Por falar em personagens, outro aspecto que funciona muito bem no filme são os atores. Por não poderem falar muito, os personagens precisam passar o que estão sentindo por expressões faciais e gestuais, mas em todo momento percebemos exatamente o que cada um está pensando, mesmo sem palavras. Destaque especial para Emily Blunt dando um show de atuação, passando muito desespero sem falar quase nada.

Por mais irônico que seja, um dos principais méritos de Um Lugar Silencioso é o seu design e direção de som. Como a maior parte do filme é em silêncio e quase sem trilha sonora, cada efeito de som é essencial e muito bem percebido. Existem também cenas em que não existe som nenhum, representando como a personagem surda percebe o mundo, trazendo ainda mais suspense. Até mesmo a trilha sonora, que é algo que geralmente estraga os filmes de terror, é colocada aqui cirurgicamente para passar emoção e sentimentos, visto que os personagens não estão sempre conversando. A trilha aqui não antecipa os sustos e nem os entrega, ela serve como uma muleta emocional.

Infelizmente, esse fantástico aspecto pode ser sua ruína nas salas de cinema. É essencial que você veja este filme na sala de cinema mais silenciosa possível ou espere para ver em casa. Procure aquelas sessões à tarde durante a semana ou procure cinemas que são mais conhecidos por ter um público mais educado. A experiência do silêncio aqui diz muito sobre a trama e fala demais sobre o que está acontecendo em cena. Piadinhas ou comentários na sala de cinema podem estragar essa experiência.

Um Lugar Silencioso traz Krasinski em seu primeiro filme do gênero dando uma aula de direção. É um suspense que vai te fazer ficar grudado na cadeira e com medo de qualquer som estranho à sua volta. Um filme que possui poucos diálogos mas que utiliza a linguagem visual do cinema para passar muita informação de uma forma intimista e muito assustadora. Recomendadíssimo, um dos melhores suspenses que vi nos últimos anos com certeza.