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Tudo Bem no Natal que Vem

Acho que um dos meus guilty pleasures em relação a cinema são filmes de Natal. Existe uma grande quantidade de filmes horríveis com esse temas, mas eu gosto muito do clima desse tipo de história. As mensagens sobre reflexão e importância da família sempre são as mesmas, mas geralmente funciona. Isso não é diferente com Tudo bem No Natal que Vem, nova comédia brasileira na Netflix estrelando Leandro Hassum. Mas, apesar da premissa clichê, o filme possui algumas ideias bem interessantes e até mesmo cenas emocionantes. Confira a crítica sem spoilers.

Tudo bem No Natal que Vem conta a história de Jorge (Hassum), um homem que odeia o Natal por fazer aniversário no mesmo dia e por ter que passar com a família da sua esposa todo ano. Por causa de uma maldição que recebe do avô da sua esposa, Jorge passa os próximos dias sempre acordando no Natal do ano seguinte, esquecendo todo o resto do ano. Ele então vai acompanhar o desenvolvimento do seu casamento e o crescimento dos seus filhos enquanto aprende “o verdadeiro motivo do Natal”.

Apesar de trazer as mesmas mensagens clichê de todo filme de Natal, o longa possui uma ideia que é até bem inteligente. Ele acaba misturando conceitos de filmes como O Feitiço do Tempo e Click para criar algo novo. Em vez de repetir o mesmo dia, ele repete a véspera de Natal, um dia que geralmente vai ser igual. Temos a loucura de comprar os presentes de última hora, as brigas de família, show do Roberto Carlos e até as piadas da instituição “Tio do Pavê”. É impossível não se identificar.

O que é uma comédia boba passa a apresentar temas e mecânicas interessantes lá pela metade do longa. Jorge vê literalmente sua vida passando pelos seus olhos e os problemas que não ser um pai e marido presente podem causar. Ele até acaba conhecendo mais do seu “outro eu”, a pessoa que passa o ano todo vivendo de forma irresponsável. Ele acaba tendo somente o Natal para pensar na vida e tentar consertar tudo. Mas, pensando bem,  não é isso que todos fazemos?

Apesar da ideia interessante, o filme falha horrivelmente em não desenvolver muito bem o que isso pode causar na mente de uma pessoa. Jorge só vai perceber que está perdendo toda sua vida lá pro final do longa e ele nunca menciona, por exemplo, que só tem mais alguns dias de vida, de acordo com sua percepção. Claro que eu não queria que o filme virasse um episódio de Black Mirror, mas tinha umas coisas meio óbvias que não são bem desenvolvidas. Como dito, no melhor estilo Click, lá pro final do longa, as coisas começam a ficar mais dramáticas. Existem algumas cenas que queriam ser emocionantes mas acabam sendo bem vergonhosas por causa do exagero e de uma direção mais madura. Mas, em outras cenas mais intimistas, a emoção bate principalmente por estarmos em um ano de pandemia e distância de nossos parentes.

Tecnicamente, o longa não faz nada mais do que uma dessas comédias da Globo Filmes já faz. Entrega o feijão com arroz cinematográfico, mas com boas atuações, apesar de alguns exageros em alguns momentos. Hassum, apesar de alguns excessos, entrega um bom personagem que consegue apresentar comédia e drama de forma satisfatória.

Tudo bem No Natal que Vem entrega uma mensagem clichê através de uma ideia bem inteligente e inovadora. É importante em um ano de isolamento social que exista um filme para enaltecer a importância dessas datas comemorativas e da família. Todos sabemos que é difícil aturar nossos parentes de vez em quando e que todo Natal é realmente igual. Mas devemos sempre aproveitar esses momentos de união e reflexão, pois não sabemos o que 2021 aguarda para nós. O longa peca em não desenvolver muito bem a própria ideia e não tem tantos momentos engraçados, mas consegue entregar uma boa diversão e, surpreendentemente,  momentos emocionantes. Com certeza entrou para a lista dos meus guilty pleasures de Natal.