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Spiderhead

O cinema é algo bastante volátil, o que o torna extremamente divertido de acompanhar. Um ator pode ser indicado ao Oscar por seu trabalho em um filme e extremamente criticado na produção seguinte. O mesmo vale para os diretores. Joseph Kosinski está voando alto, com méritos, no sucesso de Top Gun: Maverick. Com um dos melhores filmes de ação do ano no currículo, é normal criar certa expectativa para os próximos trabalhos dele. Curiosamente, algumas semanas após Top Gun, a Netflix adicionou ao catálogo seu novo longa original: Spiderhead. E nem mesmo Chris Hemsworth pilotando um avião consegue salvar o dia aqui.

Baseado no conto escrito por George Saunders, Spiderhead acompanha a rotina de um complexo de experimentos luxuoso localizado em uma ilha paradisíaca. Os habitantes são presidiários que caminham livremente pelos corredores, dormem em camas confortáveis e comem do bom e do melhor. Em troca, eles emprestam seus corpos para servirem de cobaias para drogas experimentais. Tudo é comandado por Steve Abnesti (Chris Hemsworth). A paz começa a ruir quando Jeff (Miles Teller) e Lizzy (Jurnee Smollett) percebem que estão vivendo uma ilusão.

A principal frustração causada por Spiderhead consiste no quanto a ideia vai se tornando vazia com o passar do tempo. Justiça seja feita, os 30 minutos iniciais vendem bem o conceito da história e as nuances por trás do experimento. Porém, o roteiro escrito por Rhett Reese e Paul Wernick (que trabalharam juntos em Deadpool) não tem muito a oferecer depois disso. Quando o espectador é fisgado, o texto cai em uma zona de conforto que dura até os créditos finais. O conflito é previsível e falta algo desafiador para tornar a trama instigante. Por exemplo, havia espaço para críticas ao sistema prisional ou sobre a indústria farmacêutica. Mas nada disso é aprofundado.

A direção de Kosinski também é engessada, extraindo pouco do elenco e sofrendo para explorar o limitado ambiente da instalação prisional. O longa foi filmado na bolha que a Netflix construiu durante o auge da pandemia, o que justifica um cenário mais enxuto. No entanto, a dualidade entre a beleza do local e as atrocidades lá praticadas não desperta nenhuma emoção no público. A experiência é neutra, assim como a decoração.

O elenco surge como o principal destaque positivo, tendo que carregar o filme nas costas. Mas não espere nenhuma atuação digna de aplausos, apenas o suficiente para não fazer você pensar em assistir outra coisa quando perceber como tudo vai acabar. Chris Hemsworth merece um destaque individual por vender bem a figura do cientista simpático e completamente louco. O ator parece empenhado em afastar sua imagem dos filmes do Thor e mostra competência para isso. Com um roteiro melhor, ele pode ser bem-sucedido nessa empreitada. Ainda não é o caso aqui.

Existe uma droga em Spiderhead que faz o indivíduo ter medo até do mais inofensivo objeto na sala. Algo me diz que a Netflix parece empenhada em mergulhar seus filmes originais nesse produto e espalhar pelo mundo. Certamente não estamos preparados para isso.