Perdido em Marte – REVIEW

O texto a seguir pode conter SPOILERS de Perdido em Marte. Se você ainda não viu, corre lá. Não vai querer ficar perdido no assunto não é mesmo?

A humanidade sempre olhou com carinho para o espaço. Quem não gosta de deixar os pensamentos se perderem diante uma linda noite estrelada? Conhecer outros planetas se tornou quase uma obsessão. É como se cada nova descoberta feita lá fora fosse um sinal do nosso poder. Mas muitas vezes esquecemos que nosso verdadeira força aparece quando estamos lado a lado. Em tempos onde o individual insiste em prevalecer, a nova produção de Ridley Scott vem nos lembrar que precisamos uns dos outros.

Perdido em Marte é como um divertido filme de auto-ajuda com doses moderadas e saborosas de ficção científica e referência a cultura pop. Esqueça o pessimismo e os tons de cinza das atuais produções do gênero. O vermelho escarlate de Marte é um sopro de vida, por incrível que pareça.

Matt Damon vive o astronauta e botânico Mark Watney, que acabou sendo deixado para trás depois que um acidente o separou de sua equipe. Perdido em Marte, ele precisa usar todo o seu conhecimento científico para sobreviver enquanto tenta se comunicar com a NASA.

Mark e Marte são os melhores personagens do filme. A relação entre os dois é tão intensa, que o lado egoísta do espectador é ativado, e ninguém quer vê-lo sair de lá tão cedo. Apenas para ver qual a próxima sacada inteligente que ele vai ter para ganhar mais alguns dias de vida. As informações técnicas estão presentes, e mesmo que alguns termos sejam complicados, não é preciso ser um mega gênio para entender o que está rolando.

Aliás é a aula de ciência mais divertida que você terá em muito tempo. Watney é o melhor botânico de Marte, um pirata espacial. Um cara que consegue sorrir diante da maior adversidade que um ser humano poderia enfrentar. Esse é o mérito de Perdido em Marte. Ser positivo apesar de tudo. Sabemos que o espaço nunca irá cooperar, mas é só tocar uma balada dos anos 80 que as coisas melhoram.

A divisão de núcleos é muito bem feita. Mesmo que grande parte do longa se passe no planeta vermelho, o núcleo terrestre é um show e tanto. Claro que nomes como Kristen Wiig, Jeff Daniels, Sean Bean e Chiwetel Ejiofor ajudam. A equipe de Watney também não fica para trás. Jessica Chastain, Kate Mara, o sempre cativante Michael Peña e outros. Todos tem seu momento de brilhar. E claro que compramos a motivação de cada um deles.

As quase 2h30m de filme passam de uma maneira deliciosa. Méritos para o quase sempre competente Ridley Scott. Aliás, do extrovertido Ridley Scott. É essencial destacar o clima que o diretor consegue dar ao filme. Se pegarmos exemplos antigos (Blade Runner, Alien) e recentes (Prometheus, Êxodo), é visível um Scott mais animado do que nunca. Talvez ajudado pelo livro escrito por Andy Weir, que serviu de inspiração para o longa.

Mas como foi dito no início do texto, Perdido em Marte tem uma mensagem essencial: precisamos nos comunicar e nos manter unidos. Mark Watney sabe que não adianta nada plantar inúmeras batatas e criar água se não conseguir estabelecer sinal com a NASA. A comunicação é a fonte da vida quando se está em uma situação como essa. Além é claro, do nosso senso de proteção para com o próximo. Que você acreditando ou não, ainda é muito forte.

Nenhum homem é uma ilha, já diria aquele pensador. E com força de vontade e uma inteligência afiada, é possível até não ficar completamente sozinho em Marte. Esqueça se algumas sequências não fazem sentido no mundo real. Deixa sua mente voar, assim como fazia quando era moleque e sonhava em ser astronauta.

Perdido em Marte nos mostra que quando o mundo se une, nada é impossível. Não sei se existe vida lá fora. Mas sei que agora vou olhar com mais carinho para a vida daqui. Pois é, minha fé na humanidade foi restaurada. Obrigado Mark Watney.