Pequenos Delitos (Netflix) | Crítica

Elenco interessante não sustenta Pequenos Delitos, filme original da Netflix

Pequenos Delitos (Small Crimes, 2017) é um reflexo do que esperar quando tratamos dos filmes exclusivos e originais da Netflix: uma premissa interessante, elenco enxuto mas com nomes de qualidade (às vezes composto por atores de séries da casa), mas com execução questionável ocasionada provavelmente pela falta de um roteiro maduro.

A trama contempla a história de um ex-policial desonrado que acaba de cumprir uma pena de seis anos de prisão por uma tentativa de homicídio. Ao sair, ele volta para casa em busca de resgate, mas acaba preso na confusão que deixou.

Os eventos mostrados no filme fazem com que Pequenos Delitos falhe na sua validação, e isso passa por todo o interessante elenco que E.L. Katz possui para dirigir. O pai de Joe, vivido por Robert Forster, é talvez o único que se salve no desinteressante roteiro. Seu personagem, anteriormente um pai benevolente e sem atitude, passa por situações que até justificam seu filhicídio no final. De resto,  temos um mal desenvolvido relacionamento com Charlotte (Molly Parker, a Jackie Sharp de House of Cards), além da mãe de Joe (Jacki Weaver), usada fortemente como muleta narrativa.

Outra coisa que também impede Pequenos Delitos de se tornar grande (perdoe o trocadilho) é justamente o personagem principal. Não há uma ambição clara apresentada, e o cenário de tentativa de sobrevivência ao qual ele é inserido não é nem um pouco atrativo. Há tipos assim na história do cinema? Alguns, Mel Gibson em O Troco era um tipo desses que, após alguns anos fora dos holofotes, volta com todo o contexto do passado criminal. Mas para essa aposta vingar é preciso coesão no tom do filme, que nesse não transita bem entre humor, tragédia e ação.

Infelizmente, as imperfeições de Joe não servem pra tornar o protagonista atrativo. Da forma como é apresentado, falta talvez algum maneirismo, diálogos mais interessantes e despretensiosos (ao mesmo tempo com intenções, no melhor estilo Tarantino). Nikolaj Coster-Waldau faz o que pode, mas não é o suficiente.