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Crítica | Pé Pequeno

Pé Pequeno nos leva a redescobrir a história do abominável homem das neves em uma animação infantil que fala sobre assuntos atuais e necessários

Existem dois lados de uma história, sendo que apenas uma versão dela sobrevive, e a temos como verdade. Mas o que acontece quando descobrimos o outro lado? Pé Pequeno se propõe a contar a história do abominável homem das neves pela visão do próprio monstro, que de monstruoso não tem nada nessa animação colorida, sem restringir-se ao público infantil, falando também com adultos, tocando em assuntos como preconceito e medo do diferente.

O filme mostra uma civilização inteira de Yetis, o famoso pé grande, morando em uma montanha escondida por nuvens, escondidos dos humanos. Essas criaturas acreditam que o ser humano, o pé pequeno, é um ser mitológico, mas um dos Yetis, Migo (Channing Tatum), está determinado em provar o contrário, arriscando a sua vida e desobedecendo as leis de sua tribo.

Por mais que Pé Pequeno seja uma animação infantil, ele não entrega uma trama boba. O roteiro de Karey Kirkpatrick e Clare Sera apresenta ideias que nos faz conectar com o que vivemos no mundo real. Como a improvável amizade entre o humano e o pé grande, duas raças completamente diferentes, que é vista totalmente como fora dos padrões; a dificuldade de comunicação e interpretação de outra cultura; a reação de ódio e medo ao desconhecido por parte dos humanos ao encontrarem com as criaturas (a cena final do filme tem uma lindo ato em relação a isso); um comparativo forte com a religião e política, apresentando as leis dos Yetis cravadas em pedra, em que algumas delas dizem que a ignorância é uma benção e não questionar é a melhor opção. São argumentos fortes que as crianças podem não entender por completo, mas que as atinge de forma lúdica através das canções do longa. Já os adultos conseguem pegar a mensagem contida nas entrelinhas e refletirem sobre a própria visão de vida que pretendem passar para os seus filhos.

A animação cumpre o papel de divertir, a trilha sonora chiclete, as canções dos personagem e as piadas funcionam, as cores chamam a atenção e a trama bem feita mantém as crianças atentas do início ao fim. Os personagens secundários são bem aproveitados e possuem funções pontuais, mas principalmente passam a mensagem de amizade para qualquer situação, uma lição que os pequenos precisam aprender desde cedo. Por mais complicados que sejam os temas apresentados, Pé Pequeno consegue apresentá-los de forma cômica e consciente, traduzindo para crianças e adultos um discurso que hoje em dia é difícil de ser debatido. A lição que fica é a de sempre olharmos para mais de um único ângulo da história, nunca aceitarmos uma verdade como única e aceitarmos o diferente como parte da nossa vida.