Os Oito Odiados – Crítica

Quentin Tarantino é meu diretor favorito. Adoro histórias contadas de sua forma, com muito crime, humor e violência gráfica. Tudo somado dando uma mistura orgânica e divertida, sempre orquestrada por uma ótima trilha sonora. O amor de Tarantino pelo gênero do faroeste sempre foi aparente nos seus primeiros filmes, e logo ele veio com Django Livre. Ao saber que ele voltaria para esse universo norte-americano, fiquei um pouco desapontado porque queria vê-lo em outros locais. Mas Os Oito Odiados consegue ser um velho oeste bem diferente do que estamos acostumados.

O filme começa com Major Marquis (Samuel l. Jackson) pedindo carona em uma carroça onde John Ruth (Kurt Russel) está levando uma prisioneira (Jennifer Jason Leigh) para ser enforcada. Como os dois são caçadores de recompensa, eles decidem se ajudar. No meio do caminho eles conhecem mais “camarada” e acabam tendo que passar a noite em uma cabana no meio do nada, com mais outros estranhos, para fugir de uma tempestade de neve. Ruth está sempre desconfiado se algum dos seus novos “companheiros” na verdade é alguém mandado para libertar sua prisioneira, então várias situações absurdas acontecem.

O amor de Tarantino pelo cinema e pelo gênero já fica claro com poucos segundos de filme. A trilha sonora é feita pelo lendário Ennio Morricone, famoso por fazer a trilha de inúmeros spaghetti westerns. Além disso, ele foi filmado em 70mm, uma câmera também usada mais antigamente que proporciona uma visão mais ampla das cenas. Apesar de que no Brasil só recebemos cópias digitais, ainda conseguimos perceber a proporção da tela bem aberta. E a direção de fotografia acertou bastante nesse ponto. Apesar de que o longa se passa quase todo dentro de um ambiente fechado, sempre tem algo acontecendo dos lados nas telas, tudo está muito bem fotografado, cada personagem e cada detalhe do cenário foi pensado para estar ali, é uma aula de fotografia.

Em muitos momentos, Os Oito Odiados parece mais uma peça de teatro, se passando em dois cenários e com bastante diálogo. O excesso de diálogos no começo pode fazer com que o filme demore para “começar” (e ele tem duração de quase 3 horas). Apesar de ter achado os diálogos bem divertidos e importantes para introduzir os personagens, acho que Tarantino não estava na sua melhor forma quando os escreveu. Algumas piadas repetidas ou diálogos repetitivos cansam um pouco. Mas depois que a situação se complica, o filme não para. São várias reviravoltas e uma tensão que não tem fim. Com já disse, é talvez o filme mais sério de Tarantino (juntamente com Cães de Aluguel, aliás, esse aqui lembra o primeiro filme do Tarantino em vários momentos), e muito disso é por causa da trilha tensa que Morriconne fez para a peça, deixando você roendo os dedos em vários momentos.

Como de costume, Quentin dirige muito bem seus atores. E é muito bom ver várias caras que já trabalharam com ele no passado, como Michael Madsen e Tim Roth. Mas Samuel L. Jackson rouba a cena e coloca o filme no bolso. Sempre carismático, dá para perceber que ele está se divertindo com seu personagem em vários momentos.

Acredito que o humor negro tenha exagerado um pouco, talvez para chocar. Mas algumas cenas gratuitas com violência contra mulher e comentários racistas me deixaram um pouco desconfortável. Óbvio que os comentários racistas vem de personagens racistas, mas são tantos que me deixam um pouco com o pé atrás, pois não é a primeira vez que Tarantino usa esse artifício para fazer comédia. E é um pouco bizarro ver as pessoas no cinema rindo de cenas tão violentas ou comentários tão baixos, só Tarantino consegue isso.

PS: O roteiro do filme me lembrou bastante uma história de Hellblazer, onde John Constantine fica preso numa lanchonete no meio de uma nevasca com uns assaltantes e clientes. O nome da história é congelado. Leia e tire suas conclusões.