Crítica | O Acampamento é eficaz em provocar tensão sutil e gradual

O Acampamento cria uma tensão psicológica sutil e gradual, que apesar de eficaz, pode desagradar pelo seu ritmo lento

O Acampamento é o primeiro longa do diretor australiano Damien Power, e chamou atenção ao ser exibido em Sundance e ter garantido elogios da crítica. O filme segue o estilo do horror australiano tradicional, lembrando por exemplo Wolf Creek: Viagem ao inferno (2005), com uma trama simples que se passa num lugar remoto e foca em explorar as reações dos personagens a medida em que a tensão cresce gradativamente. A originalidade do filme definitivamente não está na premissa, que consiste em um casal que decide acampar num lugar isolado na Austrália.  No entanto, apesar do ritmo lento, outros fatores como a montagem e edição das cenas surpreendem e causam um efeito interessante no espectador.

No início do longa, o cenário principal nos é apresentado, uma floresta árida australiana onde o casal Samantha (Harriet Dyer) e Ian (Ian Meadows) decidem passar o Ano Novo acampando. Ao chegarem no camping, que Ian acreditava ser quase desconhecido, percebem que já havia uma tenda no local. Ian e Samantha alojam-se próximos a essa tenda e mais tarde descobrem ser de uma família constituída por um casal, uma filha adolescente e um bebê. Inicialmente o filme até parece tentar criar tensão e mistério sobre quem será o assassino, mas logo vemos que este não é o objetivo, uma vez que o mistério é quebrado rapidamente e o filme passa a focar nos assassinos, explorando suas mentes, como se fossem também protagonistas da trama. A brutalidade na trama é extremamente sugestiva e pouquíssimo explícita, mesmo assim o diretor é muito eficiente em transmitir um certo mal estar ao espectador deixando a câmera estática em um plano aberto enquanto uma cena de violência está ocorrendo, transmitindo a curiosa sensação de estarmos vendo algo que não deveríamos. Além disso, em meados do longa ocorre uma ruptura na linha do tempo da trama, gerando uma sequencia dupla de cenas em paralelo, que a princípio desafiam o espectador, mas logo é possível interpreta-las. Este recurso foi interessante para inovar a forma de contar uma narrativa cujo enredo não surpreende.

Apesar desses acertos, o filme tem o andamento extremamente lento até sua metade e isso pode afastar muitos possíveis espectadores. Também não é recomendável para quem espera uma brutalidade explícita em cena. Algumas atitudes dos personagens são inesperadas, o que é bom em alguns casos e ruim em outros, onde parecem forçadas ou convenientes demais. No entanto, O Acampamento ainda é um bom exemplar de horror australiano ao estilo tradicional e quem quer conhecer mais deste estilo ou apenas busca um horror mais sugestivo não deve se decepcionar.