Moxie: Quando as Garotas vão à Luta Moxie: Quando as Garotas vão à Luta

Moxie: Quando as Garotas vão à Luta

Moxie: Quando as Garotas vão à Luta é uma comédia adolescente que indico para aqueles dias em que você quer ver algo leve e não sabe o que escolher no meio de tanta oferta no catálogo da Netflix. É envolvente, fácil, passa mensagens bacanas e até dá para comprar o casal. É um filme bonzinho, mas também não passa disso.

No longa, Vivian (Hadley Robinson) começa a questionar as opressões vividas pelas meninas em sua escola depois da chegada de Lucy (Alycia Pascual-Pena), uma novata que não as aceita passivamente. A protagonista percebe que estas situações, que inferiorizam mulheres e são reproduzidas tanto pelos estudantes como pelos profissionais da escola, passam batido de tão normalizadas. Mas para tudo há um limite e, quando uma lista categorizando e objetificando as garotas viraliza (elaborada, óbvio, pelos garotos), Vivian decide tomar uma atitude. 

Quando jovem, sua mãe, interpretada por Amy Poehler, que é também a diretora do filme (e perfeita), participou de um grupo Punk e feminista. Inspirada por esse passado dela, Vivian utiliza a arte para protestar contra o machismo. Sem se identificar como autora, produz fanzines e espalha vários exemplares em locais estratégicos para que ficassem disponíveis às estudantes antes de serem proibidos pela direção da escola.

De repente, ela se vê liderando o movimento Moxie que empodera suas colegas e lhes dá uma voz para rebater os absurdos pelo qual passam. Mas, à medida que vai ganhando força, também passa a ser questionado e até proibido. De modo interessante, o filme consegue mostrar como acontece a dinâmica dessas discussões nos dias de hoje quando, por exemplo, Mitchell (Patrick Schwarzenegger), um dos personagens mais machistas, em um discurso que lhe concedem como direito de resposta, fala como se a reação de suas vítimas provocasse uma suposta perseguição a ele (o famoso “preconceito reverso”).

Outra ideia interessante que o filme traz é a da interseccionalidade nesta reunião de mulheres: a diversidade entre as feministas que vêm de diferentes grupos sociais e, desse modo, sentem o preconceito de variadas formas. O clímax desse debate ocorre quando percebemos que Claudia (Lauren Tsai), filha de imigrantes rigorosos, por conta da dificuldade que tiveram em se inserir na sociedade estadunidense, sofre muito mais retaliações por ter se envolvido no movimento do que Vivian, cuja família é caucasiana e, por esse motivo, não tem sua presença no “mundo ocidental” questionada.

Além disso, a trama soube trazer o papel dos homens com Seth (Nico Hiraga) o crush da protagonista, que apoia, mas a liderança permanece com as garotas. O desenvolvimento da relação entre eles é bacana, mas ele precisava mesmo ganhar tanto biscoito por apoiar o movimento? E agora algo mais pessoal: precisava mesmo aquele encontro deles dois ser em uma funerária?

Voltando às mensagens feministas do enredo, também foi legal ver meninas de diferentes tipos se juntando ao Moxie. Não só as nitidamente diferentonas-problematizadoras, mas também aquelas que a gente não espera tanto nesse tipo de filme (sim, as patricinhas-líderes de torcida). Aqui, não há Meninas Malvadas e sim sororidade. 

No meio de todos esses acontecimentos políticos iniciados por Vivian, em sua tentativa de mudar o pequeno mundo da escola, ela enfrenta também seus problemas pessoais. Nem sempre é uma filha ou namorada perfeita e, por mais que seja empoderada, sente bastante a falta de seu pai, que praticamente a abandonou depois do divórcio com a mãe.

 Enfim, deu para perceber que Moxie traz à tona questões super interessantes, principalmente considerando seu público-alvo. Porém, como falei, não é um filme perfeito. Normalmente, o que mais me desagrada em obras desse tipo é quando tentam ser pedagógicos demais. Nem é esse o caso, mas dá para sentir uma certa forçação de barra. Falei um pouco das ideias que achei melhor desenvolvidas, mas outras são mostradas só para preencher uma espécie de check list. Acho que o maior exemplo disso é a personagem em cadeira de rodas, que poderia ter uma presença muito mais cativante, mas, ao final, sequer lembramos seu nome. Ao que parece, só quiseram mesmo expor que ela existia.

Ainda assim, é um filme necessário para esses tempos e bem agradável de assistir.