Inferno | REVIEW

Franquias possuem uma característica em comum: a repetição de fórmula. Em alguns casos funciona, em outros o resultado final acaba sendo um desastre. É complicado manter uma relevância e um nível satisfatório de qualidade quando não existe muito espaço para ir além. As aventuras de Robert Langdon, adaptadas das obras escritas por Dan Brown, chegaram em um limite bastante perigoso. Inferno, novo capítulo dessa jornada, sofre bastante com essas limitações. O que acaba gerando um produto pouco inovador, o terrível “mais do mesmo”.

Na trama, Robert Langdon (Tom Hanks) desperta em um hospital, com um ferimento na cabeça provocado por um tiro de raspão. Bastante atordoado, ele é tratado por Sienna Brooks (Felicity Jones), uma médica que o conheceu quando ainda era criança. Langdon não se lembra de absolutamente nada que lhe aconteceu nas últimas 48 horas, nem mesmo o porquê de estar em Florença. Subitamente, ele é atacado por uma mulher misteriosa e, com a ajuda de Sienna, escapa do local. Ela o leva até sua casa, onde trata de seu ferimento. Lá Langdon percebe que em seu paletó está um frasco lacrado, que apenas pode ser aberto com sua impressão digital. Nele, há um estranho artefato que dá início a uma busca incessante através do universo de Dante Alighieri, autor de “A Divina Comédia”, de forma a que possa entender não apenas o que lhe aconteceu, mas também o porquê de ser perseguido.

Partindo desse ponto, não existe nada que o público já não tenha visto em O Código Da Vinci e Anjos e Demônios. Quem é fã desses filmes, vai se sentir em casa aqui. Mas quem espera um pouco mais de inovação, certamente vai sentir uma pontada de decepção. Até mesmo a mudança na temática não consegue ser bem aproveitada. Antes tínhamos a religião e a fé do ser humano como alvo. Jesus Cristo, a igreja e a ciência unidas e etc. Em Inferno, o foco é a fé na humanidade. Até onde somos capazes de ir para sobreviver? E quando vamos assumir nossa parcela de culpa pelas mazelas do planeta?

O questionamento ganha vida na figura do bilionário Bertrand Zobrist (Ben Foster), que defende que a raça humana está com os dias contados, muito por conta do crescimento populacional desenfreado. Para resolver esse problema, já que ninguém parece interessado, ele resolve tomar uma medida drástica. Mas são poucos os momentos em que o espectador se pega dividido entre as questões levantadas. Faltam elementos para tornar esse cenário mais cinza, onde o certo e o errado não estivessem tão claros. Zobrist é o vilão e ponto final. Nem mesmo seus seguidores soam convincentes.

Tom Hanks;Felicity Jones

Os melhores momentos do filme são os mesmos das produções passadas, quando Robert Langdon abre sua vasta mente para metralhar informações históricas. Mesmo que os enigmas, marcas registradas dos livros, sejam bem menos complicados, sempre é interessante presenciar tais diálogos. O longa também sabe utilizar seus elementos chave, como Dante e a gravura Mapa do Inferno, de Botticelli. Claro que algumas cenas exigem uma suspensão de descrença por parte do público, algo que já vem desde O Código Da Vinci.

Nas atuações, Tom Hanks segue convincente como Robert Langdon. Um papel que ele desempenha com facilidade, tendo em vista que já está em seu terceiro filme. Claro, não são os melhores trabalhos de sua carreira, mas é o suficiente para cativar o público. Felicity Jones é um problema, mais por sua inconstância. Algo que tem origem no roteiro. A química com Tom some nos momentos decisivos, o que prejudica até mesmo a grande reviravolta da trama. Não que fosse algo inimaginável, já que estava estampado para todo mundo enxergar. Ben Foster, Omar Sy e Sidse Babett Knudsen fazem o feijão com arroz.

O grande problema está no roteiro de David Koepp e na direção de Ron Howard. As reviravoltas e revelações da trama não conseguem atingir o impacto esperado. Além da questão da repetição, que citei no início do texto. A mudança do final do filme em relação ao livro certamente vai desagradar os fãs mais fervorosos. Howard tenta emular elementos dos filmes de ação recentes, mas sem a mesmo êxito. O uso excessivo de flashbacks soa como uma total falta de crença na percepção do público. De acerto, é preciso citar os aspectos visuais das alucinações de Robert. Combinado com a trilha de Hans Zimmer, isso cria uma sensação de urgência no espectador.

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Inferno é um filme que aposta na base de fãs criada pelas outras adaptações das obras de Dan Brown, o que não é nenhum pecado. Mas falta coragem para ir mais além e se destacar de seus companheiros. Não é, com o perdão do trocadilho, uma experiência infernal. Vai entreter durante algumas horas e nada mais. Aí fica ao seu critério decidir se isso é bom ou ruim.