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Imperdoável

Exercitar o perdão talvez seja uma das mais árduas tarefas da trajetória humana. Imperdoável é a nova tentativa da Netflix em um longa estrelado por Sandra Bullock. A diretora alemã Nora Fingscheidt assina a direção do filme e Peter Craig, Hillary Seitz e Courtenay Miles assinam o roteiro. Sandra é sem dúvida o ponto mais positivo dessa empreitada. Ela está despida de vaidades em um papel que proporciona à atriz explorações interessantes de interpretação.

Com seus 57 anos, ela mostra ampla maturidade ao encarar o papel de Ruth Slater, uma ex-presidiária condenada por ter assassinado um policial. Após 20 anos de prisão, sua fama a impede de ser realocada na sociedade sem julgamentos. As dores desse retorno à vida “normal” é o foco central do filme. Ruth quer reencontrar a sua irmã Kathy, sem contato desde o dia do triste episódio. Em uma busca incessante, Ruth chega aos moradores atuais da sua antiga casa que foi cena do crime. O pai da família, um advogado (interpretado por Vicente D’Onofrio), passa a ajudá-la mesmo a contragosto da esposa (Viola Davis). Já os filhos do antigo policial, após todos esses anos querem vingança.

A trama gira em torno desta vida pós prisão e todos os seus preconceitos que parecem acelerar em ritmo de episódios de uma série. Quase nos dá a impressão de uma divisão em blocos. A saída da prisão, a tentativa de trabalhar e esquecer o passado, a busca pela irmã, a vingança dos filhos do xerife e o desenrolar da história que traz um surpreendente desenlace. Isso se justifica porque Imperdoável é uma adaptação de uma mini série de TV inglesa chamada Unforgiven (de Sally Wainwright – 2009). Poderiam ter outras saídas para essa adaptação? É possível, mas o que assistimos é uma escolha por tentar encaixar uma mini série em um longa.

Talvez o excesso de “pontas abertas” e bons personagens coadjuvantes com pouco tempo de exploração podem causar essa impressão. Eu li algumas outras críticas sobre a obra, um pouco imperdoáveis nesse ponto. Ao meu ver, nem todo filme tem que amarrar todos os assuntos levantados. Algumas vezes, uma obra criar perguntas que não é capaz de respondê-las. Isso permite que o público complete o quebra-cabeça e reflita.

É esse se tornou o exercício proposto por Imperdoável.  A atuação extremamente precisa de Sandra Bullock, com expressões contidas e fortes na medida nos provocam reflexões, mesmo com poucas palavras. Um texto econômico, principalmente para o personagem de Ruth, é um acerto que se contrapõe ao excesso de flashbacks embaçados. Eles são uma tentativa de recriar a angústia dos pensamentos e lembranças tanto de Ruth quanto de sua irmã, agora adulta que não se lembra de nada do passado. Um efeito desnecessário, já que a interpretação de Sandra, neste caso, não precisava desta muleta.

A direção de fotografia é outro ponto positivo. Guillermo Navarro foi outra excelente escolha da produção. O ambiente quase sem cor e o frio do cenário são importantes elementos para dar suporte ao Drama que flerta com Thriller policial. Falta suspense e sobra drama, o que não incomoda aos espectadores sem necessidade de classificar filmes em caixas metódicas.

Os equívocos no roteiro, em sua estrutura, não atrapalha a experiência de ver Sandra Bullock em excelente trabalho e Viola Davis, que mesmo em poucas cenas, consegue dar profundidade ao personagem que vivencia o final revelador. Longe de crimes imperdoáveis, fazer cinema às vezes deixa marcas em quem realiza. Acho que Sandra sai ilesa e mostra a capacidade de se reinventar. Assista e se não gostar do filme, tudo bem. Apenas perdoe.