2014 foi um ano esquisito. Fazia tempo que a Pixar passava em branco, e seus últimos filmes não exalavam muita criatividade por parte do estúdio que nos trouxe Toy Story e Wall-E. Com Divertida Mente (Inside Out, 2015) a produtora nos brinda com um trabalho ao seu estilo: sentimental, imersivo e edificante, sem abandonar o humor e as sutilezas da vida.
Crescer pode ser uma jornada turbulenta, e com Riley não é diferente. Ela é retirada de sua vida no meio-oeste americano quando seu pai arruma um novo emprego em São Francisco. Como todos nós, Riley é guiada pelas emoções – Alegria, Medo, Raiva, Nojinho e Tristeza. As emoções vivem no centro de controle dentro da mente de Riley, onde a ajudam com conselhos em sua vida cotidiana. Conforme Riley e suas emoções se esforçam para se adaptar à nova vida em São Francisco, começa uma agitação no centro de controle. Embora Alegria, a principal e mais importante emoção de Riley, tente se manter positiva, as emoções entram em conflito sobre qual a melhor maneira de viver em uma nova cidade, casa e escola.
Divertida Mente é didático, talvez até demais. É provável que nenhum aspecto conceitual que o filme tenta passar fique em branco, mesmo que em alguns momentos as explicações se tornem necessárias através do humor ou de forma bem resumida para não ficar enfadonho. De modo geral, os fios condutores da história são a até então onipresente Alegria, presente em todos os momentos positivos da garota; a Raiva, que emerge principalmente perante às injustiças cotidianas (como ser “obrigada” a comer brócolis); o Nojinho que previne Riley de se contaminar seja comendo ou socialmente; o Medo para prevenção da integridade física; e a Tristeza, totalmente subestimada e tida como algo absolutamente ruim. E é nesse último sentimento onde habita a grande sacada do filme.
O aspecto organizacional do filme é usado de forma convenientemente genial. Os primeiros minutos de Divertida Mente se dedicam a mostrar o crescimento da garota, ao mesmo tempo em que os “personagens sentimentos” também se desenvolvem. E as ilhas de personalidade? Ter uma protagonista adolescente permite que o didatismo funcione perfeitamente, desconstruindo tudo o que foi aprendido (categoricamente) para emergir uma nova garota, onde bem e mal se mistura e geram ambiguidade.
É de uma sutileza elogiável o fato da Pixar manter a história externa de Riley o mais normal possível. Nada de acontecimentos espetaculosos acontecem fora de sua mente. Mas isso não significa que Divertida Mente não brilhe. Todos as piadas possíveis são muito bem usadas, e há até o amigo imaginário da garota dos tempos de criança (que provavelmente fará você chorar, ou algo muito próximo disso). Mas os momentos mais hilariantes são quando acompanhamos o quinteto sentimental na mente de outros personagens como os pais, professores, cachorros, e até gatos!
A tristeza é necessária em nossas vidas. Ela precede e também chega depois dos momentos alegres, e sem ela perdemos nosso poder de empatia. Boa sorte quando você descobrir que sua vida não é um mar de rosas, meu amigo. Caso já tenha consciência disso, Divertida Mente tem tudo para se tornar não apenas o filme favorito para os pais psicólogos entreterem seus filhos, mas um marco no que diz respeito à ambientação criativa. Afinal de contas, escolher um adolescente para desconstruir (para depois construir) as coisas pode até ser clichê, mas a Pixar conseguiu fazer isso de um modo genial.