“É esse tipo de filme que mata o cinema, não é original, não tem propósito.” Com essa citação, que escutei na fila do cinema enquanto esperava para assistir ao filme, que começo esta crítica. O cinema, de fato, morreu? Não, definitivamente não! Constantemente ele se reinventa, se recicla, explora novos caminhos e entrega experiências únicas. A originalidade depende do ponto de vista individual, “original” significa algo extraordinário, nunca visto antes, e posso garantir para você, leitor, que Os Jovens Titãs em Ação! Nos Cinemas é um produto original para a DC/Warner em relação a virada de jogo que esse longa pode representar a longo prazo. Uma mudança de postura radical no estilo de produção que futuramente a DC pode apostar, navegando para achar a própria identidade nos cinemas em meio a tanto mais do mesmo. Com naturalidade, o longa animado ri das produções anteriores do próprio estúdio, satiriza a rival Marvel e cutuca o grande número de filmes derivados e blockbusters sem conteúdo. A cereja do bolo é a enorme quantidade de easter eggs e referências espalhadas pelo filme, nada gratuito, tudo dentro do contexto da trama.
Os Jovens Titãs em Ação! Nos Cinemas consegue conversar com praticamente todos os públicos, um mérito incrível alcançado pela Warner Bros. Animation. O público infantil é o mais impactado, acostumados com o desenho do Cartoon Network vão encontrar tudo que já assistiram e muito mais, como cores vibrantes, piadas sobre puns, luta de heróis, momentos musicais, artifícios usados justamente para prender a criança na cadeira do cinema para assistir um gigante episódio da animação. Aqueles que não tem muita familiaridade com o desenho, seja por questionar a escolha criativa de infantilizar a série original de 2003, por nunca ter assistido ou apenas por ser um espectador casual – como eu -, também vão se divertir demais com o filme, sem nenhuma dúvida. Isso devido aos inúmeros easter eggs inseridos na trama desde o primeiro segundo, espalhados nos outdoors de prédios, letreiros, nomes de lojas, falas dos personagens se referindo aos Guardiões da Galáxia, cenas inspiradas em O Rei Leão – que com certeza é uma das melhores cenas de todo o filme -, em quadros, a ilustre presença de Stan Lee, objetos de cena, é uma infinidade que fica até difícil de pegar todas em uma única vez. Agora, se você é apenas um ser humano que leva a vida muito a sério, nunca se deparou com o universo dos heróis e muito menos com o estilo da animação e está apenas acompanhando sua criança, tem toda a possibilidade de se decepcionar e se cansar rapidamente.
O roteiro de Michael Jelenic e Aaron Horvath é bastante simplista e agradável, mostrando Robin tentando conseguir um filme só para ele e se questionando o motivo de já não ter ganho sua própria história, quando até mesmo o carro do Batman, o cinto de utilidades e o mordomo Alfred já estão na fila para ganhar uma aventura solo, como mostrado em uma das cenas em que os personagens estão dentro de um cinema para mais uma estreia de um longa do Batman. É nessa parte que entra a cutucada nos diversos filmes atuais que são lançados sem nenhuma preocupação com o conteúdo que é entregue, visando apenas a arrecadação de bilheteria e enriquecendo os cofres dos estúdios. É um detalhe percebido apenas pelo mais adultos e atentos as entrelinhas da história. A partir daí, os integrantes dos Jovens Titãs correm para ajudar Robin a realizar seu sonho de deixar sua reputação de mero ajudante para ser herói cinematográfico, com direito a viagem no tempo e uma linda referência a De Volta Para o Futuro e uma jornada para encontrar um arqui-inimigo que os farão ser dignos de receberem o título de super heróis, deixando de serem considerados uma piada diante do panteão dos grandes heróis do universo DC.
O longa animado faz piada das produções anteriores da DC, mostrando que o estúdio sabe tirar sarro de si mesmo de forma leve enquanto está aprendendo com os erros do passado, e boa parte desses momentos acontece quando Robin, Mutano, Ravena, Estelar e Cyborg estão dentro dos estúdios da Warner e podem ver os grandes heróis gravando seus filmes. A recriação da polêmica cena de Batman V Superman envolvendo a Martha consegue tirar boas risadas. O vilão Slade Wilson, O Exterminador, também pode ser considerado como uma maneira de brincar com o fato de que o personagem apareceu na cena pós créditos de Liga da Justiça com a promessa de ganhar um filme solo e até mesmo ser o vilão do incerto The Batman. Também é relembrado o triste filme do Lanterna Verde e, de certa forma, enaltecendo o longa da Mulher Maravilha, em um cena que a própria personagem aparece em seu jato invisível, toda boba com o sucesso, até porque precisamos lembrar desse incrível acerto cinematográfico. A veia auto-depreciativa é uma ferramenta muito bem usada no roteiro, ela existe com a justificativa de que a animação atual dos Jovens Titãs se baseia nela para jogar suas piadas ao público de maneira realmente engraçada para as crianças e para aqueles que se deixam levar por uma comédia boba.
Os Jovens Titãs em Ação! Nos Cinemas é uma obra despreocupada com a realidade dos personagens, sem medo de brincar com a imagem do grupo ser uma piada para os outros heróis. Os diretores Aaron Horvath e Peter Rida Michail, conseguem levar a essência da animação televisiva para os cinemas, jogando com os traços de animações antigas em determinados momentos. A dublagem é um trabalho impecável para ser apreciado, uma arte que dá mais charme ao produto final. O filme em si não é algo inovador, mas consegue ser original, representando uma nova página para a DC e um respiro de alívio em fazer algo certo, talvez até o melhor longa do Universo DC para esse ano e, com toda certeza, a melhor cena pós crédito para os saudosistas – como eu – da animação de 2003. A melhor maneira de assistir este filme é se deixar levar pela despretensiosa, divertida e inteligente história e rir. Citando o Coringa de Heath Ledger: “Let’s Put A Smile On That Face”.