Fazer uma sequência de qualidade é uma tarefa indigesta. Ao mesmo tempo em que é necessário respeitar o material original, deve-se acrescentar ideias que expandam o universo em questão de maneira interessante e atraente para o maior público possível. E mesmo que não faltem exemplos para mostrar que isso não é uma missão impossível, também existem os fracassos retumbantes. Círculo de Fogo: A Revolta, infelizmente, faz parte desse segundo escalão. Não que filmes ruins de robôs gigantes sejam algo inédito no cinema…
Na trama, uma década se passou desde os eventos que salvaram a humanidade no primeiro filme. Enquanto alguns países se erguem dos escombros, boa parte da sociedade acabou assumindo um estilo de vida fora da lei. É nesse cenário que conhecemos Jake (John Boyega), filho do lendário Stacker Pentecost (Idris Elba). Vivendo como ladrão de peças de jaegers antigos, seu caminho cruza com o da jovem Amara (Cailee Spaeny) e ambos precisam lutar para o salvar o mundo, de novo.
De cara, é preciso destacar o quanto Círculo de Fogo: A Revolta é um imenso poço de desperdício de boas ideias. Tudo que não soa genérico é logo abandonado em prol de situações sem nenhum brilho de originalidade. Claro que é impossível emular a visão autoral de Guillermo del Toro, mas a insistência em preencher a tela com personagens rasos beira o incompreensível. Isso acaba reverberando no plano dos vilões da sequência, que apesar de um determinada reviravolta, não se sustenta. Muito por ter como base uma dessas tais ideias facilmente abandonadas.
Além do roteiro problemático, a direção cambaleante de Steven S. DeKnight (famoso por ter comandado a primeira temporada de Demolidor) joga contra o filme em vários momentos. É justo reconhecer que ele consegue montar ótimas cenas de ação, com planos mais abertos e sem corte abruptos que atrapalham a experiência do espectador. Mas sua condução do elenco deixa a desejar, não conseguindo estabelecer laços de empatia entre personagens e público. Quem ainda se destaca é John Boeyga, muito por conta de seu carisma natural.
Mas, se formos observar pelo prisma da diversão pura e simples, Círculo de Fogo: A Revolta cumpre sua função muito bem. As batalhas entre kaijus e jaegers são verdadeiramente empolgantes, muito por conta do design atrativo dos novos robôs gigantes. A preocupação deixada pelos trailers em relação a movimentação e escala é logo afastada. É como estar diante de um tokusatsu que recebeu milhões de dólares de injeção em efeitos especiais. Ainda que se leve a sério em momentos errados, não tem como não abrir um sorriso quando a destruição começa. Apesar da questão mercadológica, colocar o Japão como cenário contribui para esse sentimento nostálgico.
Extremamente problemático, Círculo de Fogo: A Revolta não consegue honrar o legado deixado por seu antecessor na cultura pop. Mas pode servir como exemplo para os grandes estúdios de que na dúvida, sempre coloquem milhões de dólares nas mãos de Guillermo del Toro. As reluzentes estatuetas do Oscar em sua estante provam que as chances de algo sair errado não existem.