Hollywood sempre despertou fascínio nos corações espalhados pelo mundo. A Meca do Cinema, com sua imenso campo magnético, atrai diariamente atrizes, atores, diretores, roteiristas, produtores, fotógrafos e etc. Enamora até mesmo quem decide levar a vida analisando suas produções. É inevitável. Mas nos corredores dos estúdios e nas ruas de Los Angeles, reside a crueldade que insiste em despedaçar os inúmeros sonhos que adentram seu território. Em Artista do Desastre, finalmente compreendemos como Tommy Wiseau suportou tudo isso.
Baseado no livro The Disaster Artist: My Life Inside The Room, the Greatest Bad Movie Ever Made, escrito por Greg Sestero e Tom Bissell, o longa escancara os bastidores daquele que é considerado um dos piores filmes já feitos: The Room. Do tipo que é tão ruim que dá a volta e fica bom, The Room alcançou o status de cult e uma legião de fãs que religiosamente prestam suas homenagens aos envolvidos em tamanha façanha. Embora não seja necessário participar de tal sofrimento, assistir a versão original acaba por acrescentar camadas ainda mais interessantes ao Artista do Desastre.
A história é focada na relação entre Tommy Wiseau (James Franco) e Greg Sestero (Dave Franco) que apesar da clara diferença de vivências, compartilham do mesmo objetivo: conseguir um lugar ao sol em Hollywood. Para isso, decidem morar em Los Angeles e matar um leão por dia em busca de papéis. Missão que se mostra praticamente impossível. No momento em que a jornada parece chegar ao fim, eis que surge a luz: E se fizermos nosso próprio filme? O longa roteirizado e dirigido por James Franco acerta ao humanizar as icônicas mentes por trás de The Room. Contando com um tom propositalmente cômico, mas jamais debochado. O mais velho dos Irmãos Franco demonstra respeito pela visão de seu homenageado, extraindo uma beleza improvável do fracasso que foi tal empreitada.

Outro acerto, esse quase espiritual, é dar foco para o crescimento de Greg Sestero. Por consequência, existe tempo mais que suficiente para que Dave Franco mostre suas habilidades. Menos talentoso que o irmão mais velho, aqui ele nunca está deslocado em cena e brilha com intensidade quando o roteiro exige. É curioso traçar paralelos entre vidas tão distintas. Porém, é impossível não exaltar o trabalho realizado por James Franco. Assimilando de forma assustadora toda a mediocridade de Tommy, James entrega a performance de sua carreira. Todos os estranhos trejeitos estão presentes aqui, potencializados por um eficiente trabalho de maquiagem. A química dos Irmãos Franco é força que impulsiona Artista do Desastre ao sucesso.
Por falar em Tommy, é esplêndida a forma como o roteiro mergulha em sua psiquê. Seria um caminho fácil apenas apresentar os bastidores de The Room. Algo que criaria humor sem muito esforço. Mas ao destrinchar seu protagonista, o longa ganha muito mais poder. Assim é possível compreender que tipo de homem Wiseau é, suas inúmeras falhas e desvios de caráter e claro, sua qualidades. Sendo a maior delas a capacidade de nunca desistir de seus sonhos. E qual a diferença entre ele e você? Bom, ele conseguiu pagar US$ 5 mil por mês, durante cinco anos, por um outdoor com a capa de The Room. Além de ter gasto em torno de US$ 6 milhões para tirar o filme do papel. A origem de sua fortuna ainda permanece um mistério.
O que joga contra o Artista do Desastre é seu ritmo extremamente acelerado na parte final. Todo o tempo investido na reconstrução dos problemáticos bastidores de The Room é manchado por resoluções fáceis de situações inconvenientes, como os atritos entre Greg e Tommy. Mas se levarmos em conta seu material base, o longa acerta em não procurar ser perfeito. Um destaque tardio vai para Seth Rogen, velho parceiro de James Franco. Representando a visão do espectador diante de tamanha atrocidade, muitos dos melhores momentos cômicos partem dele.
Artista do Desastre é engraçado, mas não esconde suas vertentes cruéis. É a história sobre o filme de um homem que teve seu coração partido. Não apenas pela Lisa – que sabemos que é real – mas principalmente por Hollywood. E que num último esforço, moveu céus e terras para deixar sua marca no lugar que tanto o maltratou. Ao acordar do sonho hollywoodiano, você consegue perceber que ele não é tão bonito assim.