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Como Nossos Pais | Crítica

“Como nossos pais” é cinema como a vida

Estava extremamente curioso para assistir ao filme brasileiro “Como Nossos Pais” de Laís Bodanzky que também assina o roteiro com o igualmente competente Luiz Bolognesi. Assuntos como o feminismo, a morte, os relacionamentos afetivos, a mentira e a verdade formam um conjunto de conflitos que Rosa, personagem interpretado muito bem pela atriz Maria Ribeiro, enfrenta. Na primeira cena, vemos um almoço em família, assistimos da cozinha ao encontro de tipos e personalidades dos personagens que vamos acompanhar. Quase como se não fôssemos convidados.

Os poucos movimentos de câmeras, closes em momentos dramáticos e um certo distanciamento da cena em alguns planos colocam o público no seu devido lugar: o de observador. Ao observar Rosa e todos os seus dilemas, fazemos um exercício simultâneo de observar os nossos conflitos internos. Enquanto o filme acontece não apenas nos colocamos no lugar da protagonista como, concomitantemente, nos colocamos em nosso própria vida, protagonizando reflexões internas.

A direção de Laís ainda utiliza muito bem o tempo dramático, o “timming” nas cenas. Talvez esse seja um dos recursos mais banalizados na produção cinematográfica atual, principalmente em produções hollywoodianas onde tudo corre, explode e papoca, o que não acontece em “Como Nossos Pais”. Momentos de silêncio bem colocados e momentos de diálogos, onde os personagens se interrompem e até falam ao mesmo tempo, se aproximam demais de como são os diálogos fora das telas, aqui na realidade em que vivemos.

Somando esses detalhes cinematográficos a um texto extremamente bem construído ao natural, assim como a fotografia (assinada por Pedro J. Márquez) que aproveita a luminosidade da vida e a utiliza com maestria, temos um filme de drama puro, profundo, cru e ao mesmo tempo sutil e poético. Longe de ser um drama pra você chorar, “Como Nosso Pais” nos faz economizar nas lágrimas para gastar energia com o que realmente importa: nossa própria vida.

Sensações que senti há algum tempo, quando assisti ao filme “Boyhood – da infância a juventude” de Richard Linklater (2014). Não é à toa que “Como Nossos Pais” levou 6 Kikitos no Festival de Gramado, incluindo o de melhor filme, melhor direção, melhor atriz (Maria Ribeiro), melhor ator (Paulo Vilhena), atriz coadjuvante (Clarisse Abujamrra) e melhor montagem (Rodrigo Menecucci). Dos quatro prêmios para atores, três ficaram com o filme, porque “Como Nossos Pais” é para se ver o excelente trabalho dos atores e revalorizar essa função que, em tempos modernos, às vezes parece ser menos importante do que efeitos especiais ou computação gráfica.

“Como Nossos Pais” tem a realidade como matéria-prima primordial para a construção da ficção, a familiaridade com o gênero documentário também ajuda, Laís Bodanzky e Luiz Bolognesi já mostraram essa conexão entre esses gêneros em outras realizações. Neste filme, não é a câmera que registra a vida, é a vida que passa pela câmera. Sorte a nossa que temos a oportunidade de ver, mesmo que por pouco tempo nas salas comerciais de cinema.