Brad Pitt em Ad Astra Brad Pitt em Ad Astra

Ad Astra – Rumo às Estrelas | Uma odisseia (na busca por curar vazios existenciais) no espaço | Crítica

Lento e reflexivo, Ad Astra – Rumo às Estrelas traz Brad Pitt em uma das melhores performances de sua carreira

No universo do cinema, temos espectadores e espectadores. Enquanto para alguns determinada produção ganha status de obra-prima, para outros o mesmo trabalho pode ser visto como uma experiência chata e enfadonha. Isso diz muito sobre você e o seu nível de envolvimento com a sétima arte. Por que eu estou falando isso? Por que Ad Astra – Rumo às Estrelas é um desses filmes que divide opiniões.

Qual a minha? O novo trabalho de James Gray (Era uma Vez em Nova York, Z – A Cidade Perdida) é ESPETACULAR! E o que verá nos próximos parágrafos são comentários de quem foi verdadeiramente impactado por essa bela obra do diretor.

Não, Ad Astra não inventa a roda cinematográfica. Não é um filme original a esse ponto. Clássicos como 2001 – Uma Odisseia no Espaço, de Stanley Kubrick, já trabalharam o tema “viagem espacial” sob abordagem existencialista de forma mais densa e impactante no passado. O que não impede que outras produções sejam feitas, acrescentando novos olhares de cineastas também seduzidos por questões que envolvem a existência do homem e suas inquietações acerca do desconhecido.

Nas mãos de Gray, a paternidade ganha caráter central. O astronauta Roy McBride (Brad Pitt), protagonista do longa, surge como alguém danificado, consumido por um vazio que o afasta de outras pessoas e o torna quase um extraterrestre entre nós. Logo percebemos que a raiz dessa reclusão vem do afastamento da figura de seu pai, que sumiu 30 anos atrás numa missão em busca de vida inteligente nos confins da galáxia.

Esse “abandono” causa em Roy uma ruptura na forma como se relaciona com os outros, fazendo dele um personagem retraído, à deriva e aparentemente desconectado de qualquer tipo de emoção. Na trama, descobrimos que seu pai Clifford McBride (Tommy Lee Jones) talvez ainda esteja vivo, injetando no protagonista uma motivação que pode ser a chave para trazê-lo “de volta à vida”.

Na odisseia do filho que segue “rumo às estrelas” na busca pelo pai, o longa evoca imageticamente a figura do divino. O “Pai” também pode ser Deus, o ser celestial que se esconde no infinito. Os conceitos se misturam e as reflexões de Roy reforçam a ausência desse pai que nunca deixa de ser um símbolo de construção moral, emocional e psicológica para seu introspectivo filho.

Viver sob essa sombra, consumido pela ausência de algo que nem mesmo o protagonista consegue explicar, dá a Brad Pitt ferramentas suficientes para brilhar. O filme é dele. Tommy Lee Jones (Onde os Fracos Não Tem Vez), Donald Sutherland (Jogos Vorazes), Ruth Negga (Loving: Uma História de Amor) e Liv Tyler (O Senhor dos Anéis) estão ali apenas como instrumentos para sua performance. E mesmo com poucos diálogos – o longa explora muito a narração em off –, o ator não decepciona, entregando-se ao papel de forma comovente.

Ao propor um quadro sobre a solidão do homem em meio à vastidão do cosmo, Gray pinta um filme carregado de melancolia. Para quebrar a atmosfera lenta da narrativa, ele insere algumas cenas de ação que parecem estar ali mais para agradar ao público convencional. Tais cenas não comprometem, mas também não fariam a menor falta dentro da história que o diretor realmente quer contar.

James Gray ambiciona em seu filme provocar nossos sentidos. Toda sua construção é meticulosamente levada por esse caminho. O longa traz uma trilha sonora grandiloquente, uma montagem cheia de recortes precisos (sempre pontuando memórias importantes de Roy), um incrível design de som e uma fotografia (de Hoyte Van Hoytema, mesmo de Interestellar) que só reforça o sentimento de solidão do personagem de Pitt.

Lento e reflexivo, Ad Astra nos coloca a bordo de uma jornada pessoal centrada na busca por uma ausência vinda do símbolo maior de autoridade e segurança na vida do ser humano: a figura paterna. Nessa viagem, que dialoga com ideias da psicanálise, desenvolver empatia com os sentimentos do protagonista – e consequentemente engajar-se com a história – exige do espectador a paixão por um cinema mais cerebral e profundo. Para esses apaixonados, o filme de Gray certamente reservará belíssimas recompensas.

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