A Noiva | Crítica

Produção de terror russa, A Noiva tem uma premissa interessante e peculiar, mas peca pelo desenvolvimento forçado e irregular, com furos e conveniências no roteiro

Mais um filme russo chega aos cinemas brasileiros este ano pela distribuidora Paris Filmes, que também foi responsável por trazer o filme Guardiões, com os curiosos super-heróis russos. Infelizmente, Guardiões decepcionou muita gente, que esperando um filme peculiar e cheio de personalidade, acabou assistindo a um longa totalmente genérico e cheio de clichês muito mal executados de produções americanas. Desta vez, em A Noiva (ou “Nevesta”, título original), temos uma produção mais interessante e menos genérica se comparada a Guardiões, o longa de terror conseguiu trazer algumas lendas e costumes da Rússia antiga e não apelou tanto para sustos fáceis, muito comuns em produções de terror comerciais dos EUA. No entanto, o filme sofre de diversos problemas, e praticamente só os fãs de terror que buscam satisfazer a curiosidade sobre como é um horror russo apreciem a experiência no cinema, mas apenas pela curiosidade e não pela qualidade do filme em si.

Uma moça (Victoria Agalakova) recém-casada vai conhecer a família de seu marido (Vyacheslav Chepurchenko) e se envolve numa trama envolvendo costumes macabros de seus familiares e uma antiga maldição. Essa é uma sinopse bem reduzida de A Noiva, que começa de forma bem interessante com uma bela ambientação da Rússia de meados do século XIX, com uma atmosfera gótica lembrando até mesmo Dracula de Bram Stoker e alguns filmes da produtora inglesa Hammer. Além da ambientação imersiva, a introdução mostra as origens da maldição da Noiva, que tem relação com o macabro costume da época de fotografar entes queridos que acabaram de morrer, mas numa postura natural, como se ainda estivessem vivos, acreditando que o negativo das fotos guardaria a “alma” do fotografado. Nesse contexto, um senhor acredita ser capaz de trazer sua falecida esposa de volta a vida, por meio de um ritual envolvendo esse peculiar costume. O ritual dá errado e então sua esposa se torna “A Noiva”, a principal fonte do horror do filme, que carrega até uma certa originalidade em sua história envolvendo uma maldição que não se vale tanto dos clichês de histórias de demônios e exorcismos, muito comuns em filmes de terror americanos.

A imersão provocada pela introdução do filme na Rússia antiga, não consegue se manter quando a trama se volta para os dias atuais, nessa parte a cenografia e a trilha sonora parecem inconsistentes, contrastando com a trilha e os elementos cenográficos muito melhor aplicados e eficazes para criar a atmosfera da Rússia do século XIX. No quesito medo, o filme não peca pelo excesso de sustos (jumpscares), porém também não cria tensão pela previsibilidade do roteiro. No entanto, um elemento interessante se destaca, como as cenas em que a protagonista numa ocasião macabra se depara com uma série de cópias dela mesma. Cenas como essa me pareceram até mais eficazes do que as que incluem o aparecimento da noiva maldita, que apesar de esteticamente interessante como criatura maligna, não impressiona ou amedronta em suas aparições. O roteiro possui uma série de furos e conveniências que guiam a história de forma forçada em diversos momentos, principalmente quanto as atitudes da protagonista que se mostram inconsistentes em ocasiões específicas. A atuação de todo o elenco é satisfatória, no entanto essa análise foi intensamente prejudicada pela dublagem em inglês que vem sendo um dos principais problemas dos filmes russos recentes que chegam aos cinemas brasileiros. Nesse caso a dublagem foi de péssima qualidade, com entonações canastronas e até mesmo vazamento de ruído na voz de certos personagens. Isso acabou prejudicando o áudio de forma geral, que é um dos elementos mais importantes em filmes de horror.

Apesar da premissa interessante com elementos relativamente originais, A Noiva deve satisfazer apenas aos fãs de terror curiosos pelo primeiro exemplar de terror russo que chega aos cinemas brasileiros em grande circulação. Mesmo assim, só a curiosidade será satisfeita, já que a qualidade da produção está longe de impressionar. A Noiva definitivamente não proporciona uma boa experiência no cinema em sua versão legendada, principalmente pela péssima qualidade da dublagem em inglês que acaba prejudicando não só as impressões sobre as atuações como o áudio do filme como um todo. Não pude ver a versão dublada em português, mas pelo trailer a dublagem parecia muito melhor que a versão em inglês. Considero admirável essa investida de trazer filmes russos para o Brasil, mas espero que os próximos venham em versões com áudio original ou ao menos com uma dublagem de melhor qualidade. De qualquer forma, vale a pena conferir pela curiosidade quando o filme sair em home video ou streaming e for possível assisti-lo em russo ou ao menos numa dublagem melhor executada.

A Noiva estreia dia 2 de novembro no Brasil.