Há muita dificuldade em se misturar o científico e o que não pode ser medido, ainda mais em tempos polarizados como o que vivemos. Visita ao Inferno, documentário exclusivo do catálogo Netflix, tenta usar as duas vertentes para entregar uma experiência diferente a quem assiste.
Visita ao Inferno mostra o vulcanologista Clive Oppenheimer em busca de diversos vulcões em atividade ao redor do mundo, relacionando sua brutal força como elemento da natureza e as crenças de cada região onde se encontram.
A fotografia (direção de Peter Zeitlinger) acompanhada de música clássica é por vezes hipnotizante. Há um certo fascínio no interior de um vulcão em atividade que vulcanologista algum poderia medir ou decifrar, e isso é o que mais justifica tanta contextualização para cada local visitado em Visita ao Inferno. Mesmo assim, em alguns momentos recobramos na memória: mas esse não era um filme sobre vulcões?
Pois é. Mas a relação social da população que cerca esses fenômenos naturais divide metade da proposta desse documentário de Werner Herzog. Por mais que fique evidente que alguns ritos sejam enfatizados apenas por “aparecer num filme” não deixa de ser interessante constatar como se dá a tradição geral de um povo, como no primeiro vulcão visitado no arquipélago Vanuatu (cerca de 1.600 km ao leste da Austrália), onde o líder da aldeia reforça a ideia de atribuir ao vulcão um local separado da ilha, o inferno. Também é salientado um viés místico onde ele acredita haver espíritos na lava, o que o leva a fazer, segundo ele, rituais para impedir que esses espíritos saiam do vulcão. Como dito acima, Visita ao Inferno não se limita a um vulcão apenas, onde podemos conhecer mais sobre outras localidades como Indonésia (país com mais vulcões em atividade do mundo, parada obrigatória para quem trabalha na área) e até Coréia do Norte.
Ao mostrar a relação entre o povo norte coreano (sob a autoridade constante de seus líderes) e o vulcão Paektu é que fica plena a proposta do documentário. Conseguir abordar de forma profunda (até o ponto que a própria Coréia do Norte permite) e relacionar de modo inteligente esse contexto com o misticismo do vulcão oferece a quem pouco conhece do país uma nova perspectiva. Até porque, o verdadeiro motivo para que cientistas ocidentais consigam entrar nesse lado da Coréia, é o medo de uma eventual erupção.
Visita ao Inferno está disponível para os assinantes Netflix.