Premiado, o estiloso curta sul-mato-grossense debate homofobia e estimula reflexão sobre crime e preconceito em um filme de suspense
“O Florista” já foi exibido em festivais no Brasil e exterior está disponível no Youtube
Atual, intenso e um verdadeiro espelho da realidade. Assim é o filme O Florista, produção sul-mato-grossense lançada em 2012, que no conceito “a arte imita a vida”, atinge alguns dos pontos mais polêmicos da sociedade: a homofobia, a ausência de humanidade e o senso de que” cada um pode fazer justiça com as próprias mãos”.
Cinco anos após ser lançado, o curta de 18 minutos que despertou a atenção da crítica mundial no último dia 28 de junho – Dia do Orgulho LGBT (Lésbicas Gays Bissexuais Transsexuais) o filme foi disponibilizado ao grande público por meio da plataforma de vídeo Youtube, logo após apresentação gratuita no MIS (Museu da Imagem e do Som), em Campo Grande (MS).
Após a exibição, aconteceu debate sobre crimes, homofobia e justiça, com o diretor do curta Filipi Silveira, a produtora executiva Rose Borges, o jornalista, Guilherme Cavalcante, o sub-secretário de Políticas Públicas LGBT de MS, Frank Rossatte do psicólogo do Centro de referência em direitos humanos de prevenção e combate à Homofobia (CentrHo), Arthur Serra Galvão, além da ampla participação popular.
O livre-acesso da obra tem por objetivo promover o debate sobre a violência gratuita diariamente registrada no País e a escolha da data para esse lançamento é devido o Mês do Orgulho LGBT.
“Quando foi lançado, o filme tinha o objetivo de levantar questões sociais em um filme de gênero, no caso o suspense. Hoje, cinco anos depois, ainda acompanhamos casos de homofobia, transfobia, crimes e barbáries escondidas por um falso senso de justiça e o aumento constante da falta de respeito ao próximo. Acredito que o curta seja uma boa ferramenta de reflexão e debate sobre o atual cenário da sociedade”, avalia o ator e cineasta Filipi Silveira que também assina o roteiro do filme.
Para Frank Rossatte, a discussão provocada pelo filme é extremamente importante para a causa LGBT. “Aqui é o único estado onde o nome social é aceito em boletim de ocorrência. As polícias e bombeiros são treinados para agir e tratar nos casos envolvendo questões LGBT. Acredito que as escolas deveriam exibir esse filme e trabalhar o combate à homofobia, mas ainda existem entraves”, opinou. Arthur concordou. “O filme é real, mostra a rotina que vemos diariamente da violência e intolerância”.
O jardineiro social – O suspense todo produzido em Campo Grande traz em um único encontro, histórias paralelas que inicia em um ato homofóbico, passando por crueldade e pela ideia de que “com as próprias mãos”, um cidadão tem o direito de eliminar as pragas existentes nesse belo jardim que é o mundo, segundo a metáfora que pouco-a-pouco é desvendada na trama.
Com esse enredo, apelo popular, rigor técnico e uma a trama que prende a atenção e estimula o pensamento sobre como e porque há tanta revolta, que culminam em crimes e distorção de valores, como a ética, respeito e cidadania “O Florista” se mostra um filme brasileiro não apenas de arte, nem somente voltado ao público, se colocando no meio-termo entre um e outro, buscando um caminho que muitos esperam do cinematografia brasileira, mas que ainda está engatinhando.
Referências pop – Filipi Silveira e Rose Borges sempre se atentaram muito às referências que o filme poderia proporcionar. E isso fica claro nos elementos pop que “O Florista” carrega. “Ultilizo de referência pelo menos no primeiro ato as referências de Anime com os closes fechados e expressivos. E temos homenagem a dois personagens de animes famosos np caso Cavaleiros do Zodíaco e Yu Yu Hakusho porque utilizam um elemento que gosto de dizer que é bonito e letal”, diz o cineasta.
Ele também revela que ao longo do filme embalado pela trilha premiada de Raphael Aguirra e uma reviravolta inteligente, outras referências vão surgindo. “‘Bebi’ um pouco de referências do Noir, Faroeste. Suspense e o Terror. No quesito suspense a abertura do filme é uma super referência aos filmes de Hitchcock que utilizava o trabalho minimalista do designer gráfico Saul Bass. É apenas um curta, mas ali gosto de dizer que tem um pedacinho de vários gêneros e referências de cultura pop”, revela.
O filme foi realizado em 2012. viajou por festivais e passados 5 anos os personagens que povoam a história e atos que ocorrem, não datou, o filme continua atual porque aborda a desinformação que é colocada no começo do curta-metragem, os crimes de ódio, transfobia, homofobia.
“O Florista” coleciona prêmios e indicações. Foi a única produção sul-mato-grossense a participar do Festival de Cannes neste caso no segmento Short Film Corner onde o diretor teve a oportunidade de encontros com representantes do setor audiovisual presentes no festival, workshops e conferências aos seus credenciados.
O filme foi indicado no primeiro turno do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro, conquistou o prêmio de melhor curta-metragem no FestCine em 2013; também ganhou o prêmio de Melhor Diretor no Curta Cabo Frio em 2013; recebeu o prêmio de melhor curta-metragem por Júri Popular e melhor trilha sonora no 9º Encontro de Cinema e Vídeo dos Sertões em 2014; participou do Festival América do Sul; do Curta Cinema – Festival Internacional de Curtas do Rio de Janeiro; do Curta Cabo Frio; do FANTASPOA – Festival Internacional de Cinema Fantástico; Festival Nacional de Cinema de Petrópolis; e da Festival de Cinema de Anápolis entre outros. O filme também representou o Brasil em festivais que ocorreram nos Estados Unidos, México, França, Polônia, Argentina e Austrália.
Mês do Orgulho LGBT – Celebrado em 28 de junho, o movimento de orgulho LGBT teve início em 1969, após a Rebelião de Stonewall, quando homossexuais hostilizados enfrentaram a polícia de Nova York dentro de bares. Apesar do episódio violento, a data marca o início da luta pelos direitos dos homossexuais e pela igualdade.
Sinopse do filme – O mundo segundo “O Florista”, interpretado por Filipi Silveira, é como um jardim que possui belas flores e pragas que precisam ser eliminadas. Seguindo essa metáfora, iremos acompanhar uma viagem onde o destino será a mente e as motivações de um intrigante “serial killer”. Cercado de mistérios, ele alimenta dentro de si sentimentos a favor da moralidade em uma trama repleta de personagens de vida dupla.