Paul Thomas Anderson reinventa a comédia romântica à sua maneira em Licorice Pizza, com um humor cínico e texto afiado, completamente amparado pela química extraordinária entre os talentosíssimos Cooper Hoffman e Alana Haim, que formam o “informável” e improvável casal mais fofo da sétima arte das últimas décadas.
Logo nos primeiros segundos, o cineasta já estabelece a personalidade de seus protagonistas e de como vai desenvolver a dinâmica da dupla (e fisgando o público de imediato), sempre extraindo o melhor de seu elenco, enquanto flerta com tomadas mais longas, em seus quase-planos-sequências, que fortalece a verossimilhança de sua narrativa, com figuras bem naturalistas e situações simples, comuns, cotidianas, mas que ganham brilho dentro do absurdismo que seus protagonistas promovem a cada passo, já que passam anos, desde o primeiro contato, evitando o inevitável e é justamente sustentado pelo desejo, pelo ciúmes e pelo orgulho, é que essa dinâmica leva o espectador em uma montanha-russa de emoções, nos colocando sempre em torcida, até o desfecho bonitinho e catártico, mas recompensador.
Com uma trilha agradável e uma fotografia que reforça essa ambientação plausível, Paul Thomas Anderson até brinca com as curiosas participações de Sean Penn, Tom Waits (que quase periga afetar o bom ritmo do longa em prol de tributos a velha Hollywood) e Bradley Cooper (que recupera o fôlego com uma subtrama perversa e sufocante), mas é no retorno a rotina de Gary e Alana que Licorice Pizza encontra e reencontra seu trunfo. Pois são dois personagens adoráveis, apaixonantes e que nos levam para um enredo envolvente, da qual nunca queremos sair. Por isso o fim traz um gosto agridoce, mas com a sensação de que cada minuto do nosso tempo valeu a pena, nesse que é um dos maiores e mais inventivos filmes da década.
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