Recentemente, a Netflix adicionou ao seu catálogo Excluídos, estreia de Nathaniel Martello-White em longa-metragem que, conforme falamos aqui na crítica, apresenta boas ideias mas peca bastante em seu desenvolvimento. Porém, ao discutir sobre o filme, algumas questões foram levantadas então resolvi falar delas num texto específico. Então vamos de final explicado.
Por que a protagonista abandonou seus filhos no passado?
Cheryl (Ashley Madekwe) é vista na cena introdutória numa grande dificuldade financeira claramente causada por ela mesma. Logo em seguida, ela aparece anos depois num condomínio de gente rica e com o nome modificado para Neve. Lá, ela faz de tudo para se adequar e ser aceita pela elite, mas há algo de errado: para viver aquela vida, descobrimos que a protagonista abandonou seus filhos da relação anterior, quando era uma pessoa pobre. Claro que essa é uma atitude pra lá de deplorável e que acontece na nossa sociedade com alguma frequência, mas por que ela fez isso?
Levando em conta a situação da protagonista, o principal indício é de que ela sofra de algum tipo de transtorno mental como narcisismo. Nessa hipótese, a falta de empatia com as pessoas que vivem ao seu redor a leva a atitudes extremas, a depender do grau de dificuldade em que ela se encontra. No caso, Cheryl passava por uma crise financeira tão forte que não conseguiu ver outra saída senão deixar absolutamente tudo para trás.
Em relação ao fato dela não levar as duas crianças justamente por saber que não seriam aceitas pela comunidade com alto grau de racismo, não parece haver na personagem um preconceito deliberado com seus semelhantes. Tanto o ato de não levar as crianças quanto o de cuidar para que seus novos filhos se adequem à branquitude da comunidade, acabam sendo por uma questão de adaptação às regras sociais estabelecidas ali. Desse modo, o racismo sob a responsabilidade de Cheryl/Neve se dá de um modo secundário, pois a sua prioridade é a sobrevivência.
É aceitável que os Excluídos Marvin e Abigail tenham se aproximado tão facilmente de Mary e Sebastian?
Sim e não. Como falamos na crítica, algumas situações se dão de uma forma demasiadamente fácil e, por mais que o plano de Marvin e Abigail fosse se aproximar dos outros dois irmãos, as cenas acabam carecendo de profundidade para convencer o espectador. No entanto, em certa medida essa aproximação faz muito sentido. Mary e Sebastian, os irmãos que foram privilegiados com a presença da mãe, sofrem bastante com o preconceito da comunidade rica que, embora os aceite em certa medida, ainda os enxerga como pessoas negras – e inferiores, em sua visão racista. Isso fica evidenciado em algumas cenas como quando Sebastian sofre bullying no colégio.
Então não é de espantar quando, ao ver duas pessoas parecidas se aproximarem, eles sejam tão receptivos. Marvin e Abigail representam um respiro social para Mary e Sebastian, amigos que de fato poderiam entender os dilemas pelos quais os dois passam na complicada fase da adolescência.
Afinal, o que deu em Cheryl para ela abandonar mais uma vez sua família?
Essa bola (de que Cheryl/Neve irá fugir mais uma vez) é cantada ao longo do filme. Os filhos do relacionamento anterior vão sufocando a mulher aos poucos, e quando sua tentativa de suborno para eles irem embora fracassa – culminando na desconfortável cena final em que Marvin e Abigail pretendem matar a todos com requintes de crueldade – a protagonista mais uma vez abandona tudo e todos. Isso acontece porque esse é o mecanismo de defesa de Cheryl quando está em momentos de extrema dificuldade, do tipo que deixa uma pessoa acuada e sem perspectivas de uma vida idealizada.
Ironicamente, o ato de abandono é o que deve ter salvado os dois filhos mais novos, uma vez que agora os quatro acabam ficando numa situação semelhante que é a de abandonados pela mãe. Nessa confusão, infelizmente quem não teve tempo para se safar foi Ian, atual marido de Cheryl.
E você, o que achou de Excluídos? Conte-nos abaixo suas impressões do filme da Netflix!