As pessoas amam monstros
Há alguns meses no catálogo de exclusivos Netflix, Amanda Knox é um documentário que evidencia a fragilidade humana além de qualquer coisa. Na apuração dos fatos pelas autoridades competentes, no âmbito jornalístico e principalmente nas consequências que cada indivíduo sofre com as injustiças; são cerca de noventa minutos de um saudável exercício de “como não ser um babaca”.
O longa acompanha o notório caso de Amanda Knox, uma garota estadunidense que se muda para a Itália. Sua vida ocorria nos conformes até sua colega de quarto (Meredith Lercher) ser cruelmente assassinada. Com a pressão da imprensa e apelo popular, logo as autoridades locais acusam Amanda e o namorado (Raffaele Sollecito) pelo crime, além do dono de um bar onde Knox trabalhava.
Ao abordar o descaso humano com as consequência de seus atos na vida alheia, a narrativa se desmembra em algumas partes interessantes para provar seu ponto.
Primeiro, obviamente, a sequência de evidências. Como todo bom documentário essa questão fica muito clara, e não nos perdemos em momento algum nos acontecimentos. Nesse sentido, esse documentário da Netflix está sempre mantendo a atenção do espectador no topo e sem cansar.
O Jornalismo imprudente, que alimenta opinião pública de forma fantasiosa resultando num bullying global também é discutido aqui. O exemplo usado é da experiência do jornalista Nick Pisa, que além de ter publicado diversas notícias sobre o caso na época, também colabora bastante com o contexto do ocorrido e corrobora com a impressão de que a investigação foi um tanto atropelada. Mas como representante da imprensa, ficou devendo falar um pouco sobre os danos que sua profissão pode causar na vida de uma pessoa, caso as informações não sejam divulgadas de forma correta.
Por último, e uma das coisas mais interessantes, é o orgulho e dificuldade das autoridades em admitir seus equívocos. Ao mostrar como o público estadunidense reagiu ao caso na época (incluindo aí uma participação do presidente dos EUA, Donald Trump), a reação italiana (ao menos na cidade de Perugia) foi de sustentar sua versão o máximo possível, sem abrir espaços para reparar o dano causado. Para comparar, é como se Amanda Knox fosse um Making a Murderer com final menos doloroso, mas com muitos traços de Audrie & Daisy pela reação social.