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O Culto de Chucky: costurando uma colcha de retalhos | Crítica

Quatro anos após o último longa da franquia e 29 anos após o primeiro, eis que em outubro de 2017 temos O Culto de Chucky, sétimo filme do boneco assassino mais amado do horror. O primeiro filme Brinquedo Assassino (1988) foi um marco no gênero, criando um terror sugestivo e cheio de tensão psicológica, onde o boneco só é explicitamente representado como um assassino ambulante no último terço do longa. As próximas duas sequências foram levando a franquia para o Terrir, até chegar ao ápice da comédia escrachada com elementos de gore e terror com A Noiva de Chucky (1998) e O Filho de Chucky (2004). Já em 2013, Don Mancini roteirista de todas as versões anteriores e diretor da maioria delas, resolveu revitalizar a franquia criada por ele com A Maldição de Chucky. Esse longa recobrou o tom mais sério, de tensão e terror, mas ainda com alguma comédia e mortes inusitadas, trazendo diversas referências e interligando fatos entre todos os filmes da franquia. Essa tentativa de retomar todas as desventuras de um boneco serial killer que não só destruiu diversas famílias, como acabou virando pai de família, culmina em O Culto de Chucky, que traz relevantes personagens das produções anteriores, costurando uma colcha de retalhos para unir os fatos peculiares presentes nos demais filmes da franquia.

O filme começa com Andy (Alex Vincent), o garoto sobrevivente do primeiro ataque de Chucky em 1988, só que agora com 36 anos, em um jantar romântico com uma pretendente. A moça logo começa a questioná-lo sobre seu passado, e acaba desistindo de continuar com ele, pelo passado macabro que ele carrega. Nesse momento o longa já relembra partes do primeiro filme e algumas das mortes provocadas pelo boneco do mal. Além disso há um flashback da cena pós-créditos do longa de 2013, fazendo ligação direta com o filme anterior. Andy, acaba retornando sozinho para sua peculiar residência. Enquanto isso, Nica (Fiona Dourif), a sobrevivente do último filme que acabou sendo culpada por todos os assassinatos do último ataque de Chucky, está internada num manicômio e recebe a notícia que será transferida para outra clínica de tratamento com menos restrições de segurança e mais liberdade aos seus pacientes. Ainda assim, esta clínica é repleta de pacientes assassinos, estupradores, infanticidas, com diversos problemas como esquizofrenia, múltiplas personalidades, entre outros. Para desespero de Nica, um dos exemplares do famigerado boneco acaba chegando no novo manicômio e seu psicólogo o utiliza como complemento para seu tratamento. Uma série de mortes bizarras começa a ocorrer na clínica ao mesmo tempo em que Andy ao saber o que ocorreu com Nica, vai até lá para tentar ajudá-la, já que todos, exceto eles dois, ainda acreditam na inocência do boneco assassino.

O longa apresenta alguns momentos divertidos e muitas, mas muitas referências para os fãs da franquia. Desde a reaparição de personagens clássicos, até a reencenação de algumas das mortes de outros filmes. As atuações estão muito boas, especialmente a do Alex Vincent e da Fiona Dourif, filha do grande ator e dublador do Chucky, Brad Dourif que como sempre fez uma dublagem impecável. Além disso, temos a reaparição de Jennifer Tilly como Tiffany, desempenhando muito bem seu papel.

Ambientar a maior parte da trama num manicômio foi uma ótima saída de Don Mancini, porque só dessa forma para suportar a incrível capacidade de certos personagens de ignorarem boa parte das evidências e culparem outros personagens como responsáveis pelas mortes absurdas que ocorrem no filme, dessa vez justificando pelos problemas psicológicos e pela maioria deles já ter assassinado alguém antes. Além dessa conveniência, há também a ausência de câmeras na clínica psiquiátrica, que é justificada de forma superficial e mesmo a falta de um sistema de segurança decente na clínica, que facilita muito as coisas para o Chucky. Apesar de poucos furos, o roteiro tem muitas conveniências como essas que acabam ficando difíceis de engolir se fossemos encarar esse filme com um tom mais sério. O longa tenta brincar com que é real e o que é alucinação em alguns momentos, mas não faz isso bem, não cria tensão psicológica e praticamente não causa medo ou susto, apesar de alguns poucos jump scares bem inseridos. O humor também é pouco trabalhado nesta produção, apesar de ser bem mais evidente do que no filme anterior. Os momentos mais divertidos talvez fiquem por conta das mortes absurdas sempre banhadas de gore e das soluções inusitadas que o roteiro proporciona.

Os bonecos do Chucky neste filme (sim, há mais de um boneco possuído desta vez) não parecem tão bem feitos quanto na produção anterior de 2013, a expressão facial não é mais tão perturbadora nem marcante e praticamente não há leves mudanças de expressão como ocorria no longa anterior, como dilatação das pupilas do boneco, ou pequenas mudanças no sorriso que contribuíam criar tensão no espectador. Ainda há momentos em que a dublagem em inglês do Chucky não está em sincronia, o que acredito ser um problema de pós-produção. A trilha sonora é outro ponto que decaiu em relação ao filme anterior, que apresentava uma trilha muito mais marcante e tensa.

 

No geral, o filme foca em explicar toda a loucura gerada pela franquia, criando uma solução mais louca ainda. Porém, isso pode agradar aos fãs pela grande quantidade de referências e participações especiais, ou até mesmo pelo modo divertido e inusitado como a trama de desenrola até alcançar seu curioso desfecho. No entanto, a impressão que dá é que deu tanto trabalho costurar toda essa história unindo os 6 filmes que os aspectos de terror e tensão, ou mesmo humor negro ficaram pouco elaborados. O Culto de Chucky é o filme do boneco assassino com a maior complexidade em seu enredo, mas se perde e volta a ficar indefinido entre o terror e o terrir. O longa deve agradar só aos fãs mais apegados à franquia ou quem mais estiver disposto a encarar as loucuras desse culto.