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Kingsman: O Círculo Dourado | Crítica

Uma sequência que se preze, precisa seguir um simples mandamento: ampliar tudo que funcionou em seu antecessor na medida em que busca consertar os erros existentes. Kingsman: O Círculo Dourado realiza com maestria a parte de maximizar os acertos, mesmo que os equívocos fiquem ainda mais evidentes. Em sua primeiro trabalho numa continuação, Matthew Vaughn ignora qualquer tipo de alerta e entrega aquilo que todo blockbuster carrega em seu DNA: diversão. Insana e desmedida diversão. E de quebra sedimenta o caminho para uma promissora franquia.

Nos embalos de Take me Home, Country Roads, o longa começa com o pé direito ao colocar Eggsy (Taron Egerton) em uma cena de ação do tipo que deixaria qualquer Velozes e Furiosos orgulhoso. Aliás, na falta de um turbinado Aston Martin do 007, um táxi dá conta do recado. É a violência estilizada característica de Vaughn, que entrega uma riqueza de detalhes em meio ao caos. Todo o primeiro ato é reservado para mostrar como a Kingsman está depois da vitória no longa anterior. Roxy (Sophie Cookson) atua como Lancelot e melhor amiga de Eggsy, Merlin (Mark Strong) segue como a pedra fundamental da agência, enquanto o jovem Galahad tenta equilibrar uma vida tripla: agente secreto, namorado da princesa sueca Tilde (lembra da famigerada cena da porta dos fundos?) e garoto comum diante de seus amigos.

O cenário muda quando Poppy Adams (Julianne Moore), a grande vilã do filme, entra em ação. Apaixonada pelos anos 50 e dona do maior cartel de drogas do mundo, ela não está feliz com o fato de precisar viver isolada no meio da selva. Seu grande sonho é que seu trabalho seja reconhecido, por isso bola um plano insano para forçar a sociedade a aceitar a legalização das drogas. Para tudo funcionar, é preciso tirar a Kingsman da jogada. Julianne Moore entrega uma personagem adoravelmente psicótica, do tipo que dá medo apenas com o olhar. Aliás, se o vilão vivido por Samuel L. Jackson não suportava ver sangue, Poppy se diverte com a matança. É a personificação da proposta do filme.

Julianne Moore como a vilã de Kingsman: O Cìrculo Dourado (Divulgação: Fox).

Sem recursos, Eggsy e Merlin recorrem aos seus primos norte-americanos: os Statesman. Champagne (Jeff Bridges) é o líder, Whisky (Pedro Pascal) é o melhor agente, Tequila (Channing Tatum em uma excelente participação) o rebelde do grupo e Ginger Ale (Halle Berry) a técnica operacional e médica. É divertido ver como as características britânicas são adaptadas para a Terra do Tio Sam. Mas é nesse ponto que Kingsman: O Círculo Dourado perde força, ainda que se entregue de vez a insanidade.

A quebra de ritmo fica clara e apesar do bom humor, os Statesman não são assim tão carismáticos. Especialmente quando Tequila é sacado para dar lugar ao insosso Whisky. A tal pegadinha do marketing funcionou novamente. O que também não joga a favor é a decisão do roteiro em incluir uma certa sequência envolvendo Egerton, Pascal e a masturbação de uma garota para conseguir informações. Kingsman não precisa desse tipo de humor para divertir. Por sorte, as coisas entram nos eixos quando Matthew Vaughn investe em um elemento crucial: o drama.

O retorno de Harry (Colin Firth), surpreendentemente plausível dentro do universo da franquia, é essencial para o amadurecimento de Eggsy. Essa relação fraternal é o que dá norte ao personagem, mostrando que ele ainda possui camadas a serem exploradas. Mas nada supera a cena protagonizada por Merlin. Mark Strong rouba os holofotes, provando mais uma vez que é um baita ator versátil. Alternando com eficiência entre humor, drama e ação, é de longe o melhor personagem do longa. É difícil não se emocionar quando ele entoa Take me Home, agora utilizada com mais sensibilidade.

Colin Firth está de volta como Harry Hart em Kingsman: O Círculo Dourado (Divulgação: Fox).

Nas atuações, Taron Egerton mostra que é o coração da franquia e que possui um futuro brilhante pela frente. Colin Firth não perdeu o timing para ação, mas abraça com ternura um papel mais secundário. Ainda mais mentor do que no primeiro filme. Halle Berry entrega carisma e doçura em cada cena e Jeff Bridges, bem, segue a missão de interpretar a si mesmo em cada novo filme. O destaque negativo vai para Pedro Pascal, que não cativa em nenhum momento. Culpa também do roteiro que o coloca em uma reviravolta pouco inspirada. Já Sir Elton John entrega uma das participações especiais mais divertida dos últimos tempos.

Matthew Vaughn conhecia os desafios da empreitada e os encarou com criatividade e pitadas de loucura. Na ausência da “cena da igreja”, o diretor investe em porradaria de primeira qualidade distribuída por todo o filme. Ação criativa, violência gráfica e uma ótima playlist compõe o kit de ferramentas de Vaughn. E acredite, ele sabe muito bem como utilizá-lo. O britânico consegue como poucos emular as principais características dos clássicos filmes de James Bond, tudo com uma aura de modernidade.

Cobrar de Kingsman: O Círculo Dourado o mesmo nível de excelência do primeiro longa chega a ser injusto. E ainda que não seja melhor, ninguém poderá negar que esse é maior, mais ousado e mais insano. É diversão em sua forma mais pura. O que já está de bom tamanho.