vingadores era de ultron joss whedon marvel studios vingadores era de ultron joss whedon marvel studios

Vingadores: Era de Ultron – Review por Charles Luis – CosmoNerd

O texto a seguir contém SPOILERS de Vingadores: Era de Ultron. Se você ainda não viu, sugiro que se liberte de seu cordões e voe para assistir o filme. Depois volte aqui pra gente bater um papo superpoderoso.

Vingadores: Era de Ultron chega aos cinemas 3 anos depois do primeiro filme solo da equipe. Muitas coisas aconteceram separadamente com os membros e todos esperavam para ver as consequências de tudo isso em uma nova reunião. Ela aconteceu e não foi muito feliz para os Heróis mais Poderosos da Terra. Em termos de inteligência e conteúdo é infinitamente superior ao primeiro longa, méritos aqui para Joss Whedon que aprendeu com erros passados. Mas a necessidade de estar intimamente ligado a todo MCU e aos filmes futuros torna a missão do longa bastante ingrata. E sabe como é: a corda sempre arrebenta do lado mais fraco.

Não existe uma introdução na nova aventura. Já sabemos quem é a equipe e o que eles fizeram antes de se unirem em “definitivo”. A sequência de abertura se passa na fria e fictícia Sokovia. É lá onde está a principal base da HYDRA ou qualquer outra coisa que ela tenha se transformado. É lá também que ocorre aquela cena “Vingadores Unidos”, uma das várias com a pegada mais HQ que o filme tem. Já dá pra perceber que existe um entrosamento entre eles, que o Capitão ainda é quadrado, que o Tony é o piadista e tudo mais. Mas o que chama a atenção dentro da equipe é o quão perturbado Bruce Banner fica depois de cada transformação em Hulk. Ele precisa da canção de ninar da Viúva Negra e até de música clássica para colocar a mente no lugar. É o monstro deteriorando o homem. E isso é crucial mais pra frente. Isso é o relacionamento entre ele e Natasha. Sim, existe umas cantadas e troca de olhares!

Missão cumprida e dados copiados à parte, o que tem de mais interessante em Sokovia naquele momento são Wanda e Pietro, os aprimorados (Inumanos? Talvez). Os efeitos do Mercúrio ficaram bacanas e funcionais dentro do filme, apesar da atuação no modo automático de Aaron Taylor. Mas é Elizabeth Olsen que rouba o coração dos manos e minas da sala. Joss foi sagaz em introduzir a personagem como um elemento de terror. Vindo das sombras, olhos vermelhos e trejeitos, a forma de andar e desaparecer. É um elemento surpresa que agrada. E sua maneira de controlar a mente e induzir as visão aterradoras em suas vítimas são geniais.

Mas não é apenas por isso que o filme é mais inteligente que seu antecessor. É porque Joss Whedon ousou e decidiu brincar no campo mais amado da ficção-científica: a inteligência artificial. O nascimento do Ultron, trazendo consigo a “morte” de JARVIS, é de uma beleza indescritível. A cena onde todos tentam levantar o martelo do Thor só fica interessante quando o vilão dá as caras. O choque de sentimentos, as citações a bíblia, a canção do pinóquio e a troca de personalidades é genial. O monólogo comandado por James Spader fez a espinha de todos travar. É um robô que entende, ou acredita entender, os humanos. Que assimilou tudo de seu criador e depois modificou. É impossível não temer algo como isso. Ultron não exige músculos dos Vingadores, ele cobra um preço mais intimista. É preciso encarar e derrotar seus próprios demônios para conseguir uma mínima chance de vencer. Não existem mais máscaras e roupas coloridas, apenas a certeza de precisar ir até as últimas consequências para salvar aquilo que acreditam ser certo.

Mas como deuses podem descer até o nível dos mortais? É nessa questão que entra o maior acerto de Joss Whedon, a correção de um crime passado. Focar no elemento mais humano de todos em tela, Clint Barton. Sim, o cara do arco e flecha é quem representa o público no meio da ação. São dele as melhores falas, as melhores sacadas e até muitos dos momentos mais importantes e emocionantes. Sua interação com Os Gêmeos é crucial para que eles façam sentido dentro da equipe e de todo o filme. Tem uma sequência protagonizada por ele antes da batalha final que vai te deixar arrepiado. Mas ainda existe a necessidade de amarrar tudo ao MCU, por isso os Vingadores partem para Wakanda (isso te lembra alguém?) em caça ao Ultron. Lá eles encontram Ulysses Klaw, vibranium e a equipe formada por Ultron, Wanda e Pietro. É nesse momento que eles sofrem sua pior derrota e o filme começa a sofrer sua auto-sabotagem.

A Marvel errou feio nas campanhas de marketing. Tantos trailers, clipes e comerciais conseguiram estragar parte da diversão. Hulk vs Hulkbuster? Você consegue esquecer após 5 minutos. Nem o primeiro confronto com a nova forma de Ultron é empolgante, pois havia sido destrinchado vários vídeos antes. Mesmo assim algo de bom pode ser retirado da passagem apagada por Wakanda: Ultron e suas toneladas de vibranium e a deterioração dos Vingadores. Wanda conseguiu destruí-los de dentro pra fora. É possível entender o passado de alguns e vislumbrar o futuro de todos. Jóias do infinito, manopla, experiências de um passado negro. Tudo isso culmina em uma premonição, uma porta para que o Visão ganhe vida. O androide, construído para ser a forma definitiva de Ultron, é genial em todos os aspectos. Paul Bettany manda muito bem mais uma vez. É misterioso, canastrão, sincero a ponto de ser quase inocente. O visual ficou perfeito, ficou lindo demais. Consegue a confiança de todos, apesar da experiência ruim bem recente com inteligências artificiais. A joia da mente em suas testa, retirada do cetro de Loki, o torna uma das ligaçãoes entre Thanos e os Vingadores. E se prepare, pois o Visão protagoniza a melhor cena do filme.

A batalha final consegue ser o momento que justifica um clima “mais sombrio” no filme. Nesse ponto todos já estão prontos para um sacrifício derradeiro, caso seja necessário. Os demônios não foram vencidos e sim assimilados. Não existe beleza no que os Vingadores fazem, mas esse é o trabalho deles. Lutar entre si e contra o mundo, sem a esperança de colocar os planos de sábado a noite em prática. Mas Whedon volta a escorregar aqui. Mais uma vez vemos a equipe contra milhares de inimigos genéricos. Mesmo que o plano de Ultron seja intrigante, a preocupação não consegue tomar conta do seu corpo. Existe sim a sensação de que algo muito ruim vai acontecer – o que acaba se concretizando – mas não existe a angústia de um fim trágico. Apesar de tanto penar e sofrer, eles são heróis e tem que salvar o dia. “Existem maneiras piores de morrer”, afirma a Viúva Negra quando ainda acreditava que bateria as botas na gélida Sokovia. Mas tudo não passou de uma tentativa de dar um sustinho nos fãs.

Vingadores: Era de Ultron exerce bem sua programação primária. Selar uma fase e preparar o terreno para a próxima. Pantera Negra, Thor: Ragnarok, Capitão América: Guerra Civil e Vingadores 3 e 4. Todos foram bem apresentados nesse trailer de mais de duas horas. Guerra Civil aliás está presente em tela mais do que o próprio Ultron. Os Novos Vingadores comandados pelo Capitão América vão assumir o comando das ações a partir de agora. Tony Stark vai tirar um tempo pra descansar, mas como já dizia minha avó: mente vazia, oficina do diabo; logo será interessante imaginar o que ele vai aprontar para ser parte crucial da Guerra Civil.

A tristeza fica por conta das boas ideias que foram deixadas de lado em nome de um propósito não tão maior assim. Vingadores: Era de Ultron tinha todo o potencial da galáxia para ser o melhor filme da Marvel até agora, mas a própria Casa das Ideias tirou isso dele. O último filme de Joss Whedon no comando dos Heróis mais Poderosos da Terra acabou servindo apenas de ponte para o futuro. E daquelas de madeira, bem surradas que ficam entre precipícios.