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Shazam! – Pouco mais de duas horas de muita diversão | Crítica

Shazam! supera as expectativas e pode ser considerado o filme mais divertido da nova fase da DC nos cinemas até o momento

Quando crianças, os super-heróis são um enorme espelho para todos nós. Acreditamos ser de algum modo possível voar pelos prédios, ter superforça, soltar poderosos raios e derrotar os mais temidos vilões. Com a vida adulta, essa saudável inocência que nos molda como indivíduos nos abandona. A boa notícia é que, quando menos esperamos, o cinema nos surpreende e, por um breve espaço de tempo, conecta a gente com aquela criança que amávamos ser. A própria história de Shazam!, nova produção da DC/Warner que entre em cartaz esta semana nos cinemas, já evoca esse sentimento.

Seu protagonista, o órfão Billy Batson (Asher Angel), é o principal nome com quem vamos nos identificar. Ao entrar em um metrô, o jovem Billy encontra uma passagem para a Rocha da Eternidade, lugar mítico onde um velho mago (interpretado por um quase irreconhecível Djimon Hounson) dá a ele grandes poderes para combater monstruosas personificações dos sete pecados capitais. Ou seja, Billy é aquela criança comum como todos nós fomos um dia que, de repente, ganha poderes sobre-humanos.

A premissa do roteiro é bem simples, mas é no tom escolhido (puxado para o humor) e em seu desenvolvimento que nos envolvemos completamente com a história. Acredite, mesmo sendo um filme de herói, você vai dar muitas gargalhadas. E grande parte desse mérito pode ser dado a Zachary Levi. O ator, que encarna Batson quando se transforma em Shazam, demora um pouco para entrar em cena, mas quando surge toma o filme para si. Sua atuação é divertidíssima, brincando bastante com a ideia do personagem ser uma criança no corpo de um adulto.

Resgatando muito da inocência dos filmes da década de 80, o longa não tem nenhuma vergonha de não se levar a sério. São inúmeras as gags e praticamente todas funcionam com um timing excelente. O roteirista Henry Gayden é esperto ainda em incluir diversos easter eggs que não parecem nem um pouco forçados. Entre as pequenas homenagens, encontramos citações a Superman, Batman, piadas com Rocky Balboa, uma rápida lembrança do filme Quero Ser Grande e uma sequência deliciosa embalada por Don’t Stop Me Now, do Queen.

A tal inocência que permeia o filme é seu grande segredo para nos conectarmos tão bem ao que estamos assistindo. O personagem de Freddy Freeman (Jack Dylan Grazer), órfão como Billy que se torna próximo do protagonista, é o responsável por trazer a nerdice para a história. Ele é um daqueles aficionados por heróis que lança questões como: “é melhor voar ou ser invisível?”. Sua presença também é fundamental na formação de Shazam como um verdadeiro super-herói.

Mas não é só de piadas que vive o filme. Mesmo privilegiando a comédia, existe espaço para o drama. Billy sofre por ser um órfão que sonha ainda em reencontrar com sua mãe. Assim como nos filmes de John Hughes (Esqueceram de Mim), que sabia como ninguém nos conectar com suas histórias, aqui a fórmula é repetida com sucesso.

Como toda história de super-herói precisa de seu antagonista, Shazam! também tem o dele. Interpretado por Mark Strong (Kingsman), Dr. Silvana me fez lembrar o vilão Síndrome de Os Incríveis. Seu personagem carrega a frustração de, mais novo, não ter sido digno de receber os poderes de Shazam e dedica sua vida a reencontrar o velho mago e usar tais poderes a serviço do mal. É um vilão sem camadas que está no filme basicamente para antagonizar com o herói e ponto.

O filme reserva ainda algumas surpresas para seu ato final. Uma delas envolve o ator Adam Brody (da série The O.C.), que já foi cotado para ser o Flash e acaba ganhando seu espaço de outra forma no universo DC. Se você conseguiu driblar os spoilers até agora, segue por aí que vai ser bem mais divertido ser surpreendido no cinema.

Shazam! é um filme incrível. De todos as produções dessa nova fase da DC/Warner (incluindo Mulher-Maravilha e Aquaman), ele é sem dúvida o mais competentemente lapidado e bem-humorado. Com a estreia do Coringa de Joaquin Phoenix para este ano, que promete ser mais sério e dar o tom de outras produções que virão da DC – possivelmente o novo Batman também –, fica a dúvida de onde encaixar o divertido personagem de Levi. Uma coisa é certa: em universo compartilhado ou não, Shazam ainda nos levará muitas vezes para reencontrar com a criança que existe em cada um de nós.