Amityville: O Despertar | Crítica

A franquia original de Amityville foi iniciada pelo aclamado Terror em Amityville de 1979, adaptação do livro The Amityville Horror de 1977, que por sua vez foi baseado na suposta maldição de uma casa, palco de um trágico caso real em que um jovem assassinou brutalmente seis pessoas da sua família, incluindo pai, mãe e irmãos. De lá pra cá foram feitas 7 sequências para o filme, fora as produções não oficiais ou que mencionam a casa onde ocorreu o crime, como Invocação do Mal 2 por exemplo, tornando-se provavelmente a casa assombrada com mais filmes da história do cinema. Após quatro longos anos de produção, Amityville: O Despertar estreia neste ano e não oferece um remake ou uma prequela, mas sim uma história original que se passa atualmente, ambientada na casa maldita.

A casa assassina…

Mais uma família se muda para a sinistra residência. Uma mãe (Jenifer Jason Leigh) com três filhos, uma adolescente (Bella Thorne) que protagoniza o filme, seu irmão gêmeo (Cameron Monagham) e sua irmã mais nova (Mckenna Grace), acompanhados de um cão. O irmão gêmeo da protagonista está há dois anos em estado vegetativo devido a um acidente, mas dias após se mudar para a nova casa, ele apresenta uma significativa melhora que surpreende a todos os médicos que o acompanhavam. A melhora avança enquanto eventos misteriosos e macabros acontecem, o que faz a jovem protagonista desconfiar da influência da maldição da casa neste repentino “despertar” de seu irmão.

De certa forma, Amityville: O Despertar soube lidar com o desgaste da franquia com um artifício interessante, também usado na franquia Pânico, quando o subgênero Slasher já estava saturado e em decadência. Este artifício foi a inserção de um personagem aficionado por terror (Thomas Mann) como recurso metalinguístico, apresentando os filmes da franquia Amityville para a protagonista e expondo a história da casa, com todos os seus clichês como eventos importantes ocorrendo às 3:15 da madrugada, o quarto amaldiçoado, dentre outras coisas. Além de apresentar a história do caso para a nova geração de espectadores, isso demonstra um domínio sobre o estilo e um cuidado com os pilares da narrativa original, o que é evidenciado pelas diversas referências ao filme de 1979, em geral bem inseridas. Dentre tais referências, destaca-se a cena da alucinação do médico da família (Kurtwood Smith) com um enxame de moscas, um dos primeiros indicativos de presenças sobrenaturais na casa, muito semelhante com o que ocorre com o personagem do padre no primeiro filme.

No quesito medo, o longa não exagera em jump scares, mas ainda assim parece apostar neles para amedrontar o espectador, já que não é eficiente em criar tensão prolongada. Os personagens em geral são bem superficiais, com exceção da mãe, cuja relação com o filho doente e motivações são levemente aprofundadas, mas no final a personagem se mostra inconsistente. Outro ponto negativo é a ausência de uma trilha sonora marcante como a música tema do primeiro filme. As atuações, no entanto, são satisfatórias, com destaque para o ator Cameron Monagham, que praticamente não fala durante todo o filme, mas consegue transmitir muito mais tensão com seu olhar e expressão perturbadores sem maquiagem, do que nas cenas em que aparece com maquiagem pesada em sua versão macabra.

Amityville: O Despertar apresenta uma proposta de horror adolescente, respeitando parte dos elementos narrativos do filme original do final dos anos 70. A produção pode ser eficaz para o público atual em geral e pode divertir os que acompanharam a franquia original, pelas referências bem inseridas no longa, mas como um todo o filme não me agradou, finalizando ainda de forma rápida e previsível. Portanto a pergunta que fica é: Será que a verdadeira maldição da casa de Amityville consiste em nunca mais pararem de fazer filmes de qualidade duvidosa sobre ela?

O filme estreia dia 14 de setembro nos cinemas brasileiros, foi produzido pela Blumhouse e distribuído pela Paris Filmes no Brasil.