Blue Moon (2025) - Crítica, Fatos e Curiosidades do filme de Richard Linklater Blue Moon (2025) - Crítica, Fatos e Curiosidades do filme de Richard Linklater

Blue Moon (2025) | Crítica do Filme de Richard Linklater

“Relevância e amor não batem à porta. Eles apenas param de pensar em você.” Essa ideia percorre toda a estrutura de Blue Moon, novo filme de Richard Linklater, que mergulha na mente inquieta de Lorenz Hart, letrista lendário da Broadway vivido por Ethan Hawke. A produção funciona como um contraponto ao também recente Nouvelle Vague, escrito por Linklater, que tratava da criação cinematográfica através de Acossado. Agora, o cineasta se volta ao universo da escrita e ao fim de uma era, acompanhando uma das últimas noites de Hart, quando a fama já havia evaporado e o amor parecia inalcançável.

O roteiro de Robert Kaplow apresenta Hart como um homem que tenta disfarçar o abatimento atrás de sua tagarelice constante sobre cinema, teatro e cultura pop. Na estreia de Oklahoma!, musical que marcaria a transição definitiva de Richard Rodgers para a parceria com Oscar Hammerstein, Hart abandona o espetáculo e segue ao Sardi’s, onde inicia uma longa conversa com o barman Eddie (Bobby Cannavale) e o pianista que ele apelida de Knuckles (Jonah Lees). A partir desse encontro, Blue Moon se desdobra em um estudo íntimo sobre o fim da relevância e a frustração criativa.

Blue Moon: Ethan Hawke e Richard Linklater resgatam Lorenz Hart

Hawke e Linklater sempre demonstraram interesse por figuras artísticas, em projetos como Me and Orson Welles e Born to Be Blue. Aqui, a parceria dá origem a uma das interpretações mais potentes da carreira do ator. Hawke constrói um Hart espirituoso, rápido nas respostas e ao mesmo tempo corroído por inseguranças. Em cena, ele demonstra consciência plena de que o mundo está avançando sem ele — e que Oklahoma!, com toda sua simplicidade, se tornaria um gigante cultural.

A escolha estética de Linklater em usar perspectiva forçada para acentuar a baixa estatura do personagem reforça essa fragilidade. Mesmo quando faz piadas ou presenteia o público com observações sobre Casablanca, a dor permanece à espreita, surgindo nos silêncios, nos olhares e nos momentos em que o verbo de Hart falha.

Margaret Qualley ilumina a tensão emocional do filme

O ponto de virada emocional de Hart é Elizabeth (Margaret Qualley), estudante universitária por quem ele nutre sentimentos que misturam admiração, desejo e esperança. É improvável que ela corresponda a esse afeto, mas Blue Moon mostra como, para Hart, a simples possibilidade de ser visto e ouvido já representa um fio de esperança. Qualley encarna a personagem com leveza e brilho juvenil, reforçando o contraste entre os dois mundos que se aproximam naquele bar.

A chegada de Rodgers redefine o drama

Quando Richard Rodgers (Andrew Scott) aparece, o filme assume outra cadência. Scott entrega um Rodgers dividido entre respeito e exaustão, reconhecendo em Hart o parceiro que moldou sua carreira e também o colega que tantas vezes sabotou o próprio talento. Uma cena no patamar das escadas sintetiza essa relação complexa, marcada por memórias de glória e mágoa, e expõe com precisão o limite da parceria.

Blue Moon (2025) - Crítica, Fatos e Curiosidades do filme de Richard Linklater

Crítica: vale à pena assistir a Blue Moon?

Uma despedida amarga e necessária

Blue Moon conclui sua jornada lembrando que Lorenz Hart morreria menos de um ano depois daquela noite. Linklater usa essa perspectiva para revisitar o desejo essencial do personagem: ser amado, ou ao menos lembrado. Assim, a canção que dá nome ao filme — e sua emblemática linha “Ouvi alguém sussurrar: ‘Por favor, me adore’” — torna-se o verdadeiro eixo dramático. Hart era movido por palavras, mas, no fim, buscava algo simples: reconhecimento, afeto e a chance de não ser esquecido.

Com sensibilidade e precisão, Blue Moon confirma a maturidade artística de Linklater e dá a Ethan Hawke um papel que sintetiza décadas de colaboração entre diretor e ator. É um retrato melancólico e afiado de um homem brilhante, mas incapaz de escapar de si mesmo.