Anne With An E (Netflix) | Review

Recém chegada ao catálogo exclusivo Netflix no Brasil, Anne With An E é uma grata surpresa

Correndo pelas beiradas, recentemente tivemos a estreia de Anne With an E no catálogo da Netflix (originalmente pelo canal CBC). Próxima de lançamentos como 13 Reasons Why e Cara Gente Branca, além de novas temporadas de outras como Orange is The New Black e House of Cards, a série criada por Moira Walley-Beckett surpreende pela simplicidade e delicadeza ao contar uma história. Isso por abordar temas importantes tanto para a época ambientada quanto para os dias atuais.

A trama acompanha Anne Shirley (Amybeth McNulty), uma garota órfã que é acolhida por engano pelos irmãos Marilla e Matthew Cuthbert (Geraldine James e R.H. Thomson), que esperavam um garoto. Antes de ser devolvida ao orfanato, Anne tenta provar seu valor aos dois, obtendo algum sucesso. Vivendo na Ilha do Príncipe Eduardo (província do Canadá) no final do século 19, sua curiosidade e imaginação consegue deixa-la confortável ou em maus lençóis na mesma proporção, então será um grande desafio conviver com essa nova família, assim como conseguir ir bem nos estudos.

Anne, Marilla e Matthew andando juntos na imagem de Anne with an e
Os Cuthbert indo a um pique nique em Anne With an E. (Divulgação: Netflix)

Inicialmente, a protagonista de Anne With an E consegue tirar do espectador o mesmo sentimento da maioria dos personagens da série: que garota chata! Mas, aos poucos, vamos nos acostumando com o gênio diferente de Anne e suas manias como falar demais (demais!), sempre usando sua imaginação de leitora assídua de clássicos como Jane Eyre (1847, Charlotte Brontë). A história da série é inspirada no livro Anne of Grenn Gagles (1908), de L. M. Montgomery.

De forma sútil, Anne With an E consegue abordar temas que conversam tanto com a nossa atualidade quanto com a época em que é ambientado. O primeiro amor, menstruação, não ser aceita na escola e abandono são temáticas atemporais que, se bem trabalhadas, há sempre interesse do público em ver abordadas e lidadas pelos personagens. Algumas coisas tem mais peso pela época, obviamente, como o fato dela ser adotada.

Anne With an E não é, porém, um retrato fiel do que seria a vida das personagens envolvidas nesse tempo. Para ser aceita, a garota precisa de atitudes dignas de uma heroína como identificar cólica de bebês, resolver incêndios e curar doenças. Apesar dos exageros, a narrativa consegue equilibrar bem as coisas.

Gilbert puxando o cabeço de Anne
O bullying também é um dos temas de Anne With an E. (Divulgação: Netflix)

Quem acaba se destacando nesse equilíbrio é Geraldine James, que está muito bem como Marilla, com forte carga dramática e personalidade (a princípio) intransigente. Há muito sentimento reprimido no lar onde vive com Matthew, e aos decorrer dos episódios vamos sabendo um pouco mais sobre o que aconteceu para que chegassem à velhice naquela situação. Mas não é mais um simples caso de “uma criança chega para ensinar”: há uma troca honesta entre os três principais aqui.

O bom trabalho se estende a praticamente todos os personagens de Anne With an E, méritos para o roteiro adaptado. Isso fica evidente com Rachel Lynde, vivida por Corrine Koslo. Desde o início ela se apresenta como uma megera, tendo esse status levemente mudado para “uma pessoa de seu tempo”, com alguns traços de simpatia.

O gancho desconfortável para a próxima temporada não foi muito bem vindo, seja por não concluir a história muito bem começada ou mesmo por deixar a perspectiva de acontecimentos um pouco fortes para um programa que soube conduzir, de forma sútil, problemas dessa e de outras épocas. Green Gables é o novo local para nossa imaginação chamar de lar.