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O que esperar da série do Justiceiro na Netflix

Por mais que fosse algo esperado, fomos pegues de surpresa nessa manhã de sexta quando a Netflix confirmou que haverá uma série solo do Justiceiro. O personagem vivido espetacularmente por Jon Bernthal na segunda temporada de Demolidor roubou a cena e foi, de acordo com muitos fãs, a melhor coisa da temporada. Mas será que o antiherói vai conseguir carregar uma série como protagonista ou sofrerá aquele problema de alguns coadjuvantes que ganham protagonismos e acabam perdendo a sua magia, como Jack Sparrow ou os Minions? Tentarei apontar alguns pontos da mitologia do personagem que podem ou não funcionar numa série.

Seu Passado Militar

justiceiro carregando um amigo na guerra, sua expressão é de ódio

Um dos aspectos mais importantes da personalidade e mitologia do personagem é seu passado militar. Originalmente nos quadrinhos ele é um veterano do Vietnam, sempre perturbado pelos horrores de uma das guerras mais sujas que já ocorreram e muito traumática para os americanos. Nessa versão da Netflix ele serviu no Afeganistão (muito mais apropriado para os dias atuais), que apesar de não ser tão traumática para os EUA, é uma guerra com bastante controvérsias e vista de forma bem crítica por parte dos americanos. Na série poderíamos ver alguns flashbacks de sua vida militar para entender melhor o personagem e de onde vem parte de sua mente perturbada. Poderia ser adaptada, o arco “Born” de Garth Ennis, com uma visão bastante crítica e violenta da guerra.

A Fase Garth Ennis

cena de hq com o Justiceiro dando um tiro no saco do Wolverine

Ennis é um roteirista de Hqs maluco e famoso pela série Preacher do selo Vertigo. Suas histórias são recheadas de cinismo, ultra-violência e humor negro. Quando Ennis pegou o Justiceiro, ele vinha de de uma fase bem complicada onde ele virou um anjo que matava bandidos para o céu (exatamente). O escritor então ignorou todo esse background e fez Frank voltar a Nova Yorque seguindo a estrutura clássica das suas histórias antigas: sair matando mafiosos. O que torna essa fase tão boa é o humor negro colocado por Ennis, o seu Justiceiro não sorri, é super preparado e calculista no melhor estilo Batman e enfrenta os mafiosos mais ridículos que já se viu em hqs. Um problema de adaptar esse início é porque alguns elementos já foram usados naquele filme do John Travolta, então ficaria algo muito parecido, adaptações teriam de ser feitas.

Além disso, tem algo muito legal nessa fase que é a famosa ridicularização dos super-heróis que o Ennis faz. O Justiceiro encontra diversos heróis nessas histórias e sempre os vence das formas mais absurdas e humilhantes. A cena onde o Demolidor é amarrado no topo do prédio foi tirada quase que 100% dessa fase. O problema disso é que a Netflix provavelmente só tem a permissão para usar personagens mais “bucha” e menos importantes do universo Marvel, então o impacto não seria tão grande.

Aparições de Personagens

O Justiceiro não tem vilões muito interessantes, a maioria são somente mafiosos ou criminosos genéricos, mas seria interessante ver aparições de personagens como Mama Gnucci, Barracuda ou Retalho. Outros personagens que poderia aparecer, além dos já citados heróis da sessão anterior, seria o Mercenário ou o Rei do Crime, mas acredito que a Netflix vai guardar esses personagens para a próxima temporada de Demolidor, por falar no demônio de Hell’s Kitchen, seria bem legal ver uma aparição dele na série. Alguém que tenho quase certeza que vai aparecer é seu sidekick Microchip, alguém que funciona mais ou menos como um Alfred nas suas histórias, já tivemos até um easter egg do seu nome no último episódio.

Os Receios

Por mais que eu goste muito do personagem e tenha ficado empolgado com essa notícia, tenho alguns receios sobre essa série. A primeira é que o Justiceiro, se analisarmos de perto, é um personagem raso. Ele não é nada mais que um personagem de filme dos ano 80 em busca de vingança. Algumas histórias focam mais na parte psicológica dele mas, na minha opinião, as mais legais são as que abordam seu “trabalho” como algo absurdo e entram na fantasia. Deu para perceber que o ótimo Justiceiro da série da Netflix é um que pende mais para esse lado dramático e psicótico, sendo tratado literalmente como um maluco na temporada. Será que sua série solo será nesse estilo, seria legal ver algo focado na loucura do personagem tentando lutar contra seus demônios internos enquanto luta contra o crime. A fase de humor negro das hqs é legal mas não acho que ela funcionaria bem na TV, é muito absurdo e exige do telespectador uma abstração.

Se eles forem seguir para esse clima mais psicológico, a série com certeza bem densa e pesada. Pois o personagem é tratado como um vilão em alguns momentos e, mesmo quando tenta fazer o “bem”, é mostrado como alguém que tem métodos claramente discutíveis. Nos resta aguardar se a sua série será dicotômica quanto a isso ou tentará buscar diferentes lados. Seria estranho ver ele duvidando de seus próprios atos, visto que no Demolidor ele é um personagem que não muda nem um pouco, ele só fica cada vez mais assassino a cada episódio que passa, o personagem quase não tem jornada ou evolução.

Conclusão

Apesar dos meus receios, acho que sairá uma série boa. Essa parceria Marvel e Netflix já deu bons frutos e o personagem de Jon Bernthal é fantástico. O Justiceiro não é um personagem difícil de se adaptar, mas mesmo assim já teve 3 filmes controversos antes de sua boa adaptação para a série do Demolidor. A grande dificuldade será de fazer com que a série não fique igual a um filme de vingança genérica, e os quadrinhos tem muito material para ajudar nessa adaptação. Os roteiristas e produtores terão que ter cuidado, porém, para não enaltecer demais um personagem com métodos tão discutíveis, pois eles são claramente exagerados e absurdos no mundo real.