Primeiros episódios da série dos Inumanos mostram que a Marvel fez uma jogada genial quando descartou os personagens dos planos do MCU.
Por muito tempo a Marvel mostrou confiança em sua estratégia de explorar cada vez mais a imagem dos Inumanos. Tanto que o longa metragem de Raio Negro e sua família era uma das grandes apostas para o MCU. Porém, quando uma série foi anunciada no lugar do filme, uma certa dúvida pairou no ar. Nem mesmo a inédita parceria com a IMAX foi capaz de amenizar a insegurança diante de materiais de divulgação para lá de duvidosos. Eis que finalmente podemos conferir os primeiros episódios e o resultado não poderia ser pior.
Os fatores para esse fracasso retumbante se espalham ao longo dos dois primeiros episódios, convertidos em um filme que estreou em algumas salas IMAX ao redor do mundo. Curiosamente, o elenco de Inumanos não está tão deplorável em suas atuações. É visível que, apesar de todas as dúvidas e gozações, eles realmente compraram a ideia. Mas é desse núcleo que surge o principal problema da série: Raio Negro (Anson Mount). O grande rei de Attilan em nenhum momento consegue passar uma figura imponente. Falta poder em sua postura, aquela tensão que toma conta do ambiente. Em termos mais populares, não passa de um grande bunda mole.
O contraponto que mais funciona aqui é a figura de Maximus (Iwan Rheon). Um vilão que cativa mais do que qualquer mocinho nesses dois episódios. Apesar dos momentos imensamente babacas, cortesia dos resquícios de Ramsay Bolton em sua atuação, seu golpe até que faz sentido ideológico. Veja bem, Raio Negro é um dos piores reis que se pode imaginar. Com sua cidade cada vez mais populosa, ele adota o sistema de castas e deixas os Inumanos com poderes menos chamativos trabalhando nas minas enquanto aproveita o luxo em seu palácio. Maximus é do povo, alguém que não conseguiu habilidades após o Ritual de Terrigênese e só não está cavando pois é irmão do rei.
Mesmo longe de sua contraparte maníaca nas HQ’s, Maximus exala aquele ar de que está fazendo tudo isso para seu próprio benefício. O que não seria nenhuma surpresa. Mas até que se prove o contrário, não tem como condenar alguém que briga pelo povo e enfrenta um tirano que parece não se importar com sua própria raça. Esse é um dos grandes desafios do roteiro nos próximos episódios, transformar Raio Negro e sua família em personagens que cativem o público. O tal do espírito heroico. Caso contrário, esse será o monólogo de Maximus.
Apesar da inspiração na passagem de Paul Jenkins e Jae Lee pelas páginas dos Inumanos, o roteiro da série não convence na hora de apresentar um jogo político, com traições e maquinações. Mesmo com quase uma hora e meia de duração, o especial corre com todos os acontecimentos principais. Desde o golpe de estado até o exílio da família real na Terra, não existe espaço para algum tipo de impacto. E como foi dito acima, não existe nenhum motivo plausível para se importar com as desventuras dos protagonistas. O que resta disso então?
Os efeitos especiais também não ajudam. E não, não estou falando dos cabelos da Medusa (Serinda Swan). Esses até que convencem quando estão em ação. A crítica vale mais para o plano geral. Orçamentos de séries de TV não costumam ser astronômicos, com raras excessões, mas aqui os gastos foram distribuídos no conta gotas. Ainda bem que boa parte dele foi usado no Dentinho, o grande destaque dos primeiros episódios. Pena que nunca veremos sua interação com o Groot no cinema. Entre os pontos positivos, estão as ligações com Agents of SHIELD (ainda a melhor produção da Marvel na TV) e um certo nível de violência que pode ser bem explorado no futuro. De resto, temos um belo exemplar de todas as habilidades do showrunner Scott Buck, que deu sua contribuição para a série do Punho de Ferro.
Inumanos é uma enorme decepção, se é que alguém ainda cultivava esperanças para a atração. Mas tudo nessa vida tem jeito, inclusive séries ruins. No pior dos cenários, Raio Negro pode usar seus poderes e mandar tudo pelos ares. Pelo menos faria algo de interessante na vida.