Narcos – 3ª Temporada | Crítica

Quando fiquei sabendo que a série Narcos iria continuar mesmo depois do fim da história de Pablo Escobar fiquei com o pé atrás. Um dos grandes diferenciais da série da Netflix era o absurdo da história do grande chefão do tráfico. Mas, felizmente, a nova temporada conseguiu pegar o que era de melhor nas anteriores e suprir essa falta do ótimo personagem de Wager Moura. Esse texto contém spoilers das duas temporadas anteriores.

A Terceira Temporada de Narcos para exatamente onde a última terminou. Com a morte de Pablo Escobar, um novo poder se ergue na Colômbia: O Cartel de Cali. Comandado pelos dois irmãos Rodriguez, Pacho e Chepe, o Cartel trouxe uma estratégia organizacional para o negócio do narcotráfico, fazendo inclusive acordos políticos para se entregar em 6 meses para não ter o mesmo fim de Escobar. Mas o agente Javier Peña, famoso pela captura de Pablo, quer prendê-los antes que o acordo seja feito.

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Com a falta de Escobar, que era um grande pilar da série, Narcos focou no que ela tinha de melhor: a construção de personagens, o jogo de gato e rato e as inspirações em fatos reais. Além disso ela se livra de uma forma bem fácil de um ponto fraco das temporadas anteriores, Boyd Holbrook como protagonista. O personagem dele nem é citado mais e o carismático Pedro Pascal entra como protagonista, agora bem mais maduro e sério do que antes.

Para suprir essa falta de personagens carismáticos, a série ainda adiciona Jorge Salcedo, um técnico em comunicações do Cartel de Cali, um personagem bem humano que se encontra no meio dessa guerra. Jorge é um coadjuvante que acaba sendo protagonista em muitos momentos por ser um personagem mais fácil de se identificar.

Com a saída de Holbrook, as narrações da série diminuíram bastante, ficando a cargo de Javier narrar alguns fatos. Por mais que eu goste desse recurso (que seguia bem o estilo de direção de José Padilha), ele acabava deixando a narrativa pobre e sem ritmo em alguns momentos. A falta de narrações foi substituída por uma série bem mais tensa e com mais ação, praticamente todo episódio avança bastante a história. Aliás, essa é uma estrutura que sempre curti em Narcos, cada episódio é um mini-filme que possui um problema para ser resolvido e tem três atos bem definidos até seu final.

O roteiro e direção da série são de alta qualidade. Raramente as decisões de roteiro são questionáveis, é tudo muito bem amarrado. Além disso, a história da série ficou mais madura, colocando mais corrupção governamental sendo do lado dos EUA ou Colômbia, no final da temporada é fácil até encontrar um paralelo com Tropa de Elite 2, pois os “mocinhos” acabam descobrindo que o buraco dessa guerra é bem mais embaixo. Um roteiro bem feito que faz você entender e se importar com uns personagens somado a uma ótima direção de suspense tornam Narcos umas das séries mais gostosas de se assistir atualmente.

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Infelizmente, a história cheia de reviravoltas contada em somente 10 episódios tem seus sacrifícios. A história tem tantos personagens para se focar que acaba deixando a desejar em alguns pontos. Por exemplo, o roteiro foca muito mais em Miguel e Gilberto Rodrigues, deixando os outros chefões de Cali meio apagados, eu gostaria de saber e conhecer mais sobre Chepe e Pacho, pois achei ambos bem interessantes. Os dois agentes que ajudam Peña também não são muito bem desenvolvidos, mas cumprem seu papel tendo uma boa química de buddycop juntos.

Outro problema que vem se seguindo é a falta de representação feminina de importância na série, é óbvio que o roteiro é refém da época e local que ele retrata, mas as mulheres da série são geralmente prostitutas ou companheiras dos homens, servindo somente como muleta para eles. Aqui e acolá temos uma jornalista com certa importância, mas ainda é uma presença muito apagada. Por outro lado, a série é corajosa em retratar o traficante Pacho da forma como ele ela, um gay assumido que não tinha medo de mostrar sua sexualidade.

A terceira temporada de Narcos consegue suprir muito bem a falta de Pablo Escobar e consegue superar a sua anterior. O roteiro fica mais maduro e sombrio, o tráfico da cocaína é tratado mais como um negócio e sem o romantismo de anteriormente. Além disso a série resolve alguns problemas de personagem adicionando outros mais interessantes e colocando atores mais carismáticos como protagonistas. Estou esperando bastante a nova temporada (já confirmada) e espero muito mais cenas tensas e perseguições de gato e rato, recheadas com muitas músicas e palavrões em espanhol.