Westworld retorna em temporada linear que perde em complexidade, mas, ainda assim, mantém-se como excelente entretenimento
Criada por Jonathan Nolan e Lisa Joy para a HBO, Westworld nunca foi uma série muito fácil de acompanhar. Trazendo uma montagem que remete a um quebra-cabeças, somos desafiados a juntar suas peças para compreender tudo o que está sendo revelado no programa. Com essa abordagem, ela acumulou ávidos espectadores da mesma forma que afastou outros. Em sua terceira temporada, o desenho ficou muito claro: encontrar um equilíbrio para fidelizar o maior número de apreciadores.
O novo ano explora o mundo fora do parque de Westworld, com Dolores (Evan Rachel Wood) dando início ao seu plano que a princípio parece ser de exterminar a raça humana. O que de cara mais salta aos olhos é a mudança estética adotada na produção. Finalmente, podemos conhecer melhor o mundo futurístico da série, com belas edificações e veículos aéreos e terrestres de design arrojado, num visual impressionante e caprichadíssimo que sugere o alto custo da temporada.
Na sua ousada tentativa de conquistar o público, a série abre mão de suas linhas temporais, deixando o enredo mais linear. Isso não chega a prejudicar o material final, mas certamente tira um pouco do brilho do programa, que poderia ter preservado (mesmo que de uma forma mais acessível) ecos de sua montagem das outras temporadas, característica que já era uma marca registrada.
Outra clara demonstração de que os números de audiência eram uma enorme preocupação dos produtores está na contratação de Aaron Paul (Breaking Bad), escalado para viver Caleb Nichols. Uma aquisição muito bem-vinda, por sinal. A participação de Caleb na trama (precisa na pele de Aaron Paul) reforça que não são apenas as máquinas as escravizadas. Ele é um humano escravo do sistema num futuro onde todos nós somos monitorados (algo semelhante ao que já acontece nos dias de hoje), aliando-se a Dolores por se identificar com sua causa.
Aliás, entre tantos temas existenciais sempre abordados de forma tão brilhante, nunca foi difícil perceber que a série trazia como pano de fundo uma forte metáfora sobre a falta de liberdade. Na terceira temporada, esse tema ganha ainda mais peso (e menos sutileza). Vincent Cassel (outra ótima novidade no elenco interpretando Serac) surge como alguém que está à frente desse controle com seu Rehoboam, uma inteligência artificial avançada que através da combinação de dados prevê toda a vida dos indivíduos controlando até onde cada um pode chegar.
Com tantas novidades, alguns personagens já recorrentes acabaram sendo prejudicados. Bernad (Jeffrey Wright), que para muita gente assumiria o protagonismo ao lado de Dolores, acabou tendo uma trama de menor destaque, sendo quase que um coadjuvante de luxo. Outra que também sofreu com o roteiro do novo ano foi Maeve (Thandie Newton). Mesmo empolgando todas as vezes em que apareceu com sua katana, foi frustrante ver a sempre implacável personagem de antes ter sido transformada numa submissa aliada de Serac.
Ponto negativo do roteiro foram também algumas soluções preguiçosas ao melhor estilo deus ex machina. Numa delas, Charlotte (Tessa Thompson) precisa fugir de um batalhão de homens armados e, ao simples toque de um botão, aciona um robô gigante convenientemente próximo de toda a ação. Quando lembramos dos inteligentes roteiros das outras temporadas, não tem como não lamentar soluções como essa.
Mas calma, o novo ano de Westworld não foi tão desastroso assim. Ao lado do já mencionado ótimo visual da temporada, seu roteiro tenta compensar algumas falhas com excelentes plot twists e traz ainda cenas de ação de alto nível. Somado a isso, sua trama continua inteligente, engajante e abre ótimas possibilidades para a próxima temporada, já confirmada pela HBO.
Ainda não sabemos ao certo quanto vai custar essa sua ousada mudança de personalidade. Para sobreviver por novas temporadas a série precisará equilibrar melhor o que a tornou uma obra de ficção científica tão celebrada ao novo rumo adotado. A boa notícia é que ela se mantém acima de média quando comparada a tantas outras produções da atualidade, deixando a expectativa de um futuro ainda muito promissor pela frente. Parafraseando (com alguma liberdade) uma das falas de Dolores na temporada, algumas pessoas escolhem ver a feiura do mundo, a desordem, eu escolho ver a beleza de Westworld.