Já faz tempo que as produções originais Netflix eram produtos raros e com grande esmero, a plataforma entendeu que o que vai manter seus assinantes no futuro é o seu produto exclusivo e toda semana sai um filme ou série nova. Uma das últimas foi The OA, uma série esquisita e corajosa de ficção científica.
A série conta a história de Praire, uma deficiente visual que sumiu por 7 anos e aparece novamente com sua visão restaurada. A moça não diz nada para sua família sobre seu desaparecimento e está bastante estranha, inclusive exige que a chamem de The OA agora. Seus únicos confidentes são um grupo de jovens e uma professora que se reúnem com ela todos os dias para ouvir suas histórias bizarras de como sumiu e como recuperou sua visão.
É difícil falar da série sem jogar alguns spoilers na sua cara, mas o que posso dizer de cara é que The OA é uma série bem única que estabelece um universo com regras específicas e vai as desenvolvendo durante os episódios. Cada episódio é uma peça desse quebra-cabeça e o espectador precisa comprar a ideia para entende-lo e aceitá-lo. É perceptível que a série foi feita com carinho e que possui diversas interpretações e ensinamentos, mas existem alguns problemas sérios que tiram nossa imersão.
O primeiro é sua narrativa extremamente lenta, nós recebemos as respostas aos poucos e a história demora demais para se desenrolar. Eu fico me perguntando se a escolha de mostrar a protagonista contando sua história pode ter tido algum impacto na nossa percepção, porque a gente sabe que ela vai sobreviver àquela situação para contar sua história, mas não entendemos como isso aconteceu. Existem também momentos de frustração onde Praire poderia se livrar e não acontece, esses momentos são repetidos algumas vezes e acabam perdendo a graça.
Outro problema que me incomodou é a construção de personagens, o grupo confidente de Praire junta alguns underdogs da sociedade que se identificam com a posição oprimida da personagem e passam a ser seus amigos. O problema aqui é que não explicam porque essas pessoas aceitaram se reunir com uma estranha todos os dias. Esses personagens são muito passivos, por isso eu não me importava muito com eles, ficava mais interessado na história da personagem principal. Além disso, todo esse papo de personagens falhos faz a situação toda parecer um livro de auto-ajuda com frases de efeito e ensinamentos, não que eu seja uma pessoa muito insensível, mas acredito que isso quebra o ritmo da série e cria situações muito bregas.
Para finalizar, a história possui elementos fantásticos e regras específicas. É bem interessante o universo que é criado no decorrer dos episódios, os elementos são colocados de forma bem subjetiva e abrindo margem para interpretação, algo como era feito em Lost. A série não tem medo de enfiar a cabeça nessa fantasia, mostrando coisas absurdas e conceitos meio toscos. Se você não comprar as explicações, vai achar tudo uma bobagem e perda de tempo. Eu não entrei muito na narrativa e me senti com vergonha alheia em alguns momentos.
Para não falar mal de tudo em The OA, temos algumas coisas boas na série. Inicialmente, a atriz Brit Marling carrega a série interpretando sua protagonista, vemos a moça passar por uns mal bocados e mudar expressões de sofrimento para alegria rapidamente, acreditamos nela e isso é importantíssimo para a narrativa. Justamente por causa do segundo ponto interessante que eu achei: como a história toda é contada por ela, não sabemos que aquilo é verdade ou não, principalmente porque muita gente acha que ela é louca. Infelizmente a série não entra muito nesse quesito, ela raramente joga essa dúvida para o espectador, abordando mais isso lá para o final da temporada.
The OA não é uma série fácil de se gostar, apesar de trazer muito coração e conceitos bacanas, a narrativa da série atrapalha na história, trazendo episódios maçantes e dificultando o espectador de se importar muito com aqueles personagens. O final da temporada é bem legal e traz uns questionamentos interessantes mas a segunda temporada já foi confirmada e para mim a série poderia acabar ali mesmo. Aliás, acredito que o principal problema de The OA é o seu formato de série, se pegassem a história e colocassem em um filme de duas horas ficaria bem menos chato e a mensagem principal da história não ficaria tão perdida em meio a tantos episódios.
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