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Sex Education – 1ª Temporada (Netflix) | Crítica

Asa Butterfield e Gillian Anderson lideram Sex Education, boa série da Netflix sobre sexo na adolescência, mostrando que falar sobre o assunto é muito mais legal que reprimi-lo

Falar sobre sexo deveria ser algo tranquilo, mas nem sempre é assim. Se somos adolescentes, podemos congelar com a mais despretensiosa indagação sobre nossa virgindade, ou então se sentir completamente deslocados numa roda de amigos brigando pelo posto de maior conhecedor do assunto. Nosso recorte brasileiro dessa realidade também não ajuda muito, onde adultos irresponsáveis lutam em diversas esferas para emburrecer ou manter na ignorância jovens que podem acabar contraindo coisas indesejáveis como uma DST ou gravidez. A nova série adolescente da Netflix, Sex Education, oferece um local para o espectador adentrar nessa temática, mas sem as lamúrias de sua conterrânea virtual 13 Reasons Why.

A trama acompanha Otis (Asa Butterfield), um adolescente que não quer chamar muita atenção no colégio, algo impossível até certo ponto devido a profissão de sua mãe, Jean (Gillian Anderson), uma terapeuta sexual. Não demora muito até todos da escola descobrirem e tirarem sarro da situação. As situação muda quando Maeve (Emma Mackey), uma garota com má fama no colégio, enxerga nisso uma oportunidade de empreendimento.

Divulgação / Netflix

Essa série está, na verdade, bem mais próxima de uma outra da rede de streaming: Big Mouth. Ao menos nos primeiros episódios, formando assim um dos atos dessa longa narrativa, os personagens são apresentados ligeiramente e às vezes em situações constrangedoras, lançando mão do humor e alguma exposição de seios e pênis. No entanto, as coisas não se resumem apenas a isso.

É como se em determinado momento Sex Education pudesse rumar para vários caminhos, mas opta por dar continuidade ao drama apresentado nos primeiros episódios, algo realizado de forma dinâmica e sucinta, entendendo a quantidade de personagens que a série abriga. O resultado são diversos dramas explorados, seja em figuras mais presentes como Otis, Maeve e Eric (melhor amigo do protagonista, vivido por Ncuti Gatwa), ou mesmo em outros pouco participativos mas detentores de algum tema passível de discussão e entendimento, como sexo lésbico, a hora certa, masturbação (feminina e masculina), traumas de infância… a lista é imensa, mas a forçação de barra, não.

Saindo do espectro descritivo, é interessante observar as escolhas para estrelar a série da Netflix. Gillian Anderson, consagrada por viver Scully em Arquivo X (fora dos holofotes, um trabalho bem legal dela é em The Fall), agarra um papel inusitado e se sai muito bem como Jean, uma terapeuta sexual que cria o filho sozinha e não se vê mais na obrigação de cultivar qualquer relacionamento amoroso duradouro. Já Asa Butterfield (talvez você se lembre dele em A Invenção de Hugo Cabret) cumpre bem a cartilha de ser um garoto tímido, sem muitas ambições no convívio escolar, mas que obviamente é uma pessoa com muitas camadas e algum trauma sexual que vamos entendendo melhor ao longo dos episódios. Para nós, nerds de plantão, vale lembrar que o ator era um dos cotados a assumir o manto do Homem-Aranha antes da escolha de Tom Holland.

Divulgação / Netflix

Essa curiosidade talvez me permita uma inusitada (e arriscada) analogia sobre a série com o amigão da vizinhança. O Peter em questão é um garoto tímido (Otis), no ambiente escolar, tendo a criação quase integralmente por uma figura feminina (Jean, de tia May). Suas principais ações são motivadas por uma garota tida como inalcançável (Maeve, de MJ), onde ele passa a exercer de forma amadora algo que só ele pode fazer (o conhecimento sobre sexo é seu superpoder). Durante sua jornada ele provavelmente irá amadurecer e resolver ao menos parte dos seus problemas. Com grandes poderes vêm grandes responsabilidades, e isso também vale para o sexo 🙂

Apontar o dedo para alguns defeitos não vai ser minha intenção aqui. Podemos citar alguns filmes e séries que tratam da sexualidade, inclusive na adolescência. Nesse sentido, não é como se estivéssemos assistindo um novo clássico, mas está muito mais para uma boa e divertida conversa, sem muitas amarras, sobre como a adolescência é um período único e peculiar dentro de suas banalidades. Ninguém é obrigado a inovar o tempo todo, mas mesmo assim, Sex Education traz ares de novidade na Netflix.