Incontáveis são as produções que trazem relacionamentos amorosos como tema principal. Em grande parte dos casos, obras… iguais. Normal People vai na contramão do curso. Ponto fora da curva. Minissérie – baseada no livro homônimo de Sally Rooney – que desperta atenção à primeira vista, numa simples lida de sinopse. Isso, claro, para os ávidos devoradores de experiências audiovisuais arrebatadoras dentro do gênero de romance.
Cornell (Paul Mescal) estuda na mesma escola de Marianne (Daisy Edgar-Jones). Cornell é popular, Marianne nem um pouco. O que aparenta ser uma desgastada história de “opostos se atraem” vai infinitamente além. Motivo: a condução é outra. Lenny Abrahamson (do magnífico O Quarto de Jack) e Hettie Macdonald (Howards End), debruçando-se no roteiro de Alice Birch (Sucession), não estão nem um pouco interessados em superficialidades. As câmeras da dupla de diretores buscam toques, olhares, intimidade. Se pudessem, levariam também cheiros para fora da tela.
Buscam também raiva, tristeza, angústia. Temas delicados são expostos com o mesmo cuidado. Relacionamentos abusivos, famílias quebradas, depressão. Tem espaço para tudo na jornada de Cornell e Marianne. Sejam juntos ou separados.
Definitivamente, não temos aqui um produto da mesmice. E se a ideia é penetrar no íntimo de uma relação, filmar a intimidade também faz parte. Momentos entre quadro paredes são capturados com muita delicadeza e sensibilidade, sem nunca parecer gratuito.
Preenchendo nossos ouvidos com a melancólica trilha instrumental do compositor Stephen Rennicks (do mesmo O Quarto de Jack), a minissérie segue fortemente comprometida em nos envolver através de uma experiência quase sensorial. Completam o escopo sonoro canções cirúrgicas que, a cada subida de créditos, ajudam-nos a processar as experiências vividas nos episódios.
Se esse tipo de produção lhe atrai – e seu interesse lhe trouxe até o final deste texto –, não duvide: os criadores de Normal People fizeram essa minissérie pensando em você.