Chegando de mansinho, Aziz Ansari e Alan Yang transformaram Master of None em uma das melhores produções originais da Netflix. Apesar de ter ganho o carinho do público e da crítica, a série passou longe dos holofotes. E talvez isso tenha dado a liberdade necessária para as mentes responsáveis pela obra explorarem ao máximo os limites da criatividade e do humor nessa nova temporada.
Aqui, encontramos Dev (Aziz Ansari) aproveitando seu período sabático na Itália após o término com Rachel (Noël Wells) no final do primeiro ano. Longe do agito de Nova York, ele encontra espaço para refletir sobre os caminhos de sua vida, tanto amorosos quanto profissionais, descobrindo assim novas perspectivas. Ansari dá uma aula de direção logo no primeiro episódio, apresentando dessa forma o espectro que cerca a nova temporada.
O formato de crônicas da vida real é mantido, porém, existe uma clara ampliação do ponto de vista. A beleza não está apenas em Dev e suas desventuras, mas em todos que o cercam. Sejam eles amigos ou completos desconhecidos. Passando por religião, questões de gênero, assédio sexual, amor e solidão na terceira idade, reality shows, aplicativos de relacionamento e etc, Master of None se permite encontrar um refúgio narrativo no cotidiano e todas as suas nuances.
O excelente episódio New York, I Love You é a síntese dessa ideia. Acompanhamos histórias distintas de desconhecidos que compõem o retrato de uma das maiores metrópoles do mundo, uma clara referência a filmes como Paris, Te Amo e Nova York, Eu Te Amo. O destaque também vai para First Date – com uma divertida montagem onde Aziz Ansari brinca com o Tinder e similares – e Amarsi un Po, episódio mais longo da série e que explora a relação entre Dev e Francesca (Alessandra Mastronardi) assim como as suas complicações.
Aziz Ansari e Alan Yang transformam a segunda temporada de Master of None em um laboratório para suas ideias, com experimentos aparentemente estranhos mas que logo transparecem um sentido. Quem espera o mesmo nível de humor dos especiais de stand up de Aziz pode ficar um pouco decepcionado. Mas é possível se divertir aqui, ainda que o viés melancólico seja uma figurinha carimbada.
Com um volume cada vez maior de produções originais, a Netflix acaba não conseguindo igualar o marketing entre todas as suas obras. O que acaba gerando um descontentamento entre os assinantes. Master of None, infelizmente, faz parte dessa lista de “renegados”. Mas isso não afeta em nada sua força e qualidade, provando de uma vez por todas que é uma das jóias do catálogo da gigante do streaming.