O trabalho de elenco é destaque em uma minissérie que não precisa de continuação para ter sucesso
Pelo título, fica claro que é uma série sobre incêndios. Na abertura você vê objetos pegando fogo. A nova minissérie produzida pela Hulu e disponível na Amazon Prime Video, Little Fires Everywhere (Pequenos Incêndios por Toda Parte), é uma adaptação do romance de mesmo nome de Celeste Ng. Protagonizado por duas grandes atrizes Reese Whiterspoon (Big Little Lies) e Karry Washington (Scandal). Longe de ser uma série sobre bombeiros, Little Fires Everywhere traz em sua trama incêndios dramáticos e psicológicos que pedem uma boa maratona.
A série, em 8 episódios de cerca de 50 minutos, fala sobre a tensão entre Elena Richardson (Witherspoon), mãe de quatro filhos e jornalista de meio expediente, e Mia Warren (Washington), uma artista visual recém-chegada à pequena Shaker Heights, Ohio, em 1997. Ela vem com sua filha Pearl, interpretada por Lexi Underwood. A trama envolve racismo estrutural, a pressão de uma pretensa inclusão em uma nova sociedade e, principalmente, as múltiplas possibilidades do papel de mãe. A maternidade é a grande protagonista da série. Elena e Mia constroem uma relação que se transforma em inimizade verdadeira ou que talvez nunca tenha sido uma amizade. Não há protagonistas e antagonistas, todos os personagens se esforçam para se antagonizar. Inclusive sob o ponto da narrativa construída.
O trabalho do elenco é o grande trunfo. Reese e Karry estão em sintonia mesmo com discussões, brigas e tretas a cada encontro. O elenco teen também dá um show, além de Lexi, os filho de Elena interpretados por Jade Pettyjohn, Jordan Elsass, Megan Stott e Gavin Lewis esbanjam talento no drama, algo raro e arriscado em se ver em um casting de jovens. O roteiro, sob a chefia de Liz Tigelaar, dá excelentes toques de ironia e veracidade em uma pegada que esbarra na nossa novela brasileira. Os dramas pesados e quase caricatos são evitados pelo elenco equilibrado e um texto verdadeiro. Se não gosta de gritos, estresse pesado e dramas psicológicos, Little Fires Everywhere não é para você. Elena, sem “H”, deixaria nosso Manoel Carlos orgulhoso.
Além disso, vale ressaltar o trabalho da direção de arte. Sempre acho incrível quando pegamos séries ambientadas na segunda metade da década de 1990. Parece que quanto mais próxima é a época do filme da contemporaneidade da sua produção, mais difícil fica para o pessoal da direção de arte. E aqui ela é importante, cada objeto tem significado em uma história onde pequenos incêndios destroem muito mais do que bens materiais.
A baixa da série talvez fique por uma resolução, ao final da temporada, que soa até simplória perante a complexidade de tantos personagens construída. Um dos males da adaptação literária, é difícil dar conta de tudo. Talvez até pela dúvida se teremos uma segunda temporada. O que ao meu ver não é necessário.
Little Fires Everywhere é uma excelente série, mas que não precisa de continuação. Sua digestão precisa de meses, talvez anos. Não é fácil ver as facetas da fragilidade humana, da intolerância e dos medos sendo transformadas em agressividade. Não havia momento melhor para a Amazon disponibilizar essa série.