Série traz episódio com direção impecável mas roteiro duvidoso
Game of Thrones está na reta final. Só mais um episódio e nós vamos nos despedir dessa história e personagens. Infelizmente, o final não está sendo como muitos esperavam e a decepção está correndo solta pela internet. Confira nossa crítica com spoilers.
No início do episódio, uma das coisas que mais me agradou foi a atuação de Emilia Clarke, a atriz que normalmente entrega uma atuação abaixo da média estava muito bem nos primeiros minutos. Sua Daenerys depressiva e furiosa com tudo que está acontecendo conseguiu passar bem os sentimentos que estavam dentro dela. A personagem de Danny é a principal reclamação dos fãs no episódio e com motivo. Mas tudo que foi feito aqui já tinha sido apresentado antes, infelizmente só não tivemos tempo suficiente para esse desenvolvimento.
Acredito que o tempo seja o principal problema dessa temporada. Por exemplo, se tivéssemos mais uma temporada para desenvolver alguns assuntos, eles não pareceriam tão vagos. Alguns deles seriam o romance de Jon e Daenerys, o desenvolvimento do Rei da Noite e, por fim, a loucura de Danny. A questão é que temos que aceitar que a série não teve esse tempo e entender o rumo que os personagens tiveram. Daenerys entende finalmente que ela não vai conseguir liderar pelo amor como fez em Mereen. A personagem entendeu que só pode liderar pelo medo e intimidação, como fez Aegon O Conquistador. Lógico que entender isso e matar pessoas inocentes queimadas é um pulo muito grande, mas aí que entra a tão falada loucura Targaryen. No momento do frenesi ela queria passar uma mensagem e não se importou em quantas vidas seriam perdidas no processo.
Apesar de uma construção duvidosa, toda a construção de cena e a culminância da destruição de Porto Real foram impecavelmente dirigidos pelo já calejado Sapochnik. Por exemplo, toda a construção da cena vista de baixo pelas pessoas comuns e o desespero de Tyrion e Jon vendo que a batalha virou um massacre foi angustiante.
Eu gostei bastante como eles transformaram uma batalha em um massacre. Se pensar bem, faz sentido. Drogon e Daenerys estavam preparados agora. Eles acabaram de vencer o Rei da Noite e tinham Tyrion, que conhecia muito bem as defesas da cidade. O uso do dragão foi estratégico e foi mostrado como uma força muito superior a qualquer coisa que teriam ali. Além do dragão, também tivemos Verme Cinzento e todas as tropas, incluindo as do Norte, animados com o frenesi da batalha e destroçando vidas de pessoas que já haviam se rendido. Esse é o tipo de realidade da Idade Média que fez eu gostar de Game of Thrones e me animou ver isso de volta.
A Arya foi outra personagem que estava ali para demonstrar o terror e desastre que Daenerys trouxe para a cidade em cenas com planos sequências que pareciam ser tiradas de um filme de catástrofe. É verdade que foi irritante usarem o clichê narrativo de nos enganar com suas várias falsas mortes, mas toda a estética da cena foi fantástica. Por falar em estética, tivemos a neve profetizada em Porto Real, mas a neve aqui foram as cinzas geradas pelo fogo do dragão.
Falando em coisa ruim, tudo envolvendo o Jaime nesse episódio foi odioso. Primeiramente com ele tentando se infiltrar na cidade com sua mão de ouro à mostra. Depois disso, tivemos uma luta sem sentido com um dos piores personagens que a série conseguiu destruir: Euron Greyjoy. É um personagem tão mal desenvolvido e sem propósito que me deixou furioso ele ser um dos responsáveis pela morte do grande guerreiro Lannister. Para culminar tudo, Cersei não fez nada durante todo o episódio e morreu nos braços de seu irmão em uma cena breguíssima. A maior vilã do seriado terminou totalmente apática, sem nenhum plano mirabolante e clamando por ajuda. Para piorar essa cena, só se decidirem que eles não morreram e mostrarem os irmãos vivendo como pescadores e cuidando de uma filha pequena anos depois. Eu não duvido mais de nada.
Outro embate entre dois personagens que deixou a desejar foi dos irmãos Sandor e Montanha. Essa era uma fanfic que eu sempre quis ver mas fiquei decepcionado com o desfecho. Uma lutinha mixuruca com os dois morrendo no final, sem nenhuma surpresa. Pelo menos a cena do Cão de Caça colocando um pouco de juízo na cabeça da Arya foi legal. Mas será que ela precisava descer até Porto Real pra entender isso?
O penúltimo episódio de Game of Thrones entregou um roteiro duvidoso, cheio de decisões criadas a partir de mal desenvolvimento de personagens. Mas, aceitando que essas decisões foram tomadas, é fácil aproveitar a narrativa de um dos episódios mais bem dirigidos da série. Uma mistura de desespero, massacre, decepção e tensão muito bem construídos por Miguel Sapochnik. Game of Thrones vai entrar no hall de séries que tiveram um final decepcionante para muita gente. Eu consegui relaxar e aproveitar muita coisa, mas sempre fica aquela sensação que poderia ter sido muito melhor.
Mais uma coisa, você achou esse episódio ruim? Pois espere para ver o próximo, que foi escrito e dirigido pelos produtores da série (D.B. Weiss e David Benioff). É o primeiro e único episódio que eles dirigiram de GoT. Isso mesmo, uma série que tem vários diretores bons vai terminar sendo dirigida e roteirizada pelos donos da bola. Talvez seja o fim que a série mereça.