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Cursed: A Lenda do Lago – 1ª Temporada (Netflix) | Crítica

Com uma mitologia rica e uma protagonista forte, Cursed é entretenimento acessível e de qualidade

As lendas arthurianas compõem o imaginário da cultura pop não é de hoje. No cinema, Antoine Fuqua fez sua versão de Rei Arthur em 2004. Mais recente, foi a vez de Guy Ritchie lançar sua interpretação do clássico personagem com o longa de 2017. Até mesmo Shrek Terceiro e Transformers: O Último Cavaleiro bebem da fama de Arthur. Contudo, apesar de existirem outras histórias focadas em personagens que compõem essa rica mitologia, pouco se vê a respeito da Dama do Lago. Nesse contexto, Cursed: A Lenda do Lago, nova série original da Netflix, surge para tentar corrigir esse erro.

Na trama, baseada no livro escrito por Thomas Wheeler e ilustrado por Frank Miller, conhecemos Nimue (Katherine Langford) uma jovem feérica que consegue sobreviver a um ataque contra sua aldeia. Durante a fuga, ela recebe de sua mãe a missão de entregar a Espada do Poder ao famoso mago Merlin (Gustaf Skarsgård). Na jornada, ela conhece o jovem bandido Arthur (Devon Terrell) e juntos precisam encarar desafios que nunca imaginaram.

Como uma reimaginação, Cursed toma para si certas liberdades ao tratar desse universo tão conhecido. Isso pode incomodar os mais tradicionalistas, mas é essencial para o bom desempenho da atração nessa primeira temporada. Livre de amarras, o roteiro consegue trabalhar bem o aspecto de novidade enquanto lança personagens famosos na tela. Parte desse equilíbrio está ligado ao fato de que Wheeler assume o papel de showrunner e produtor executivo ao lado de Miller. Conhecedores do material de origem, eles sabem como posicionar cada peça no tabuleiro.

Entretanto, isso não impede que Cursed sofra com um grave problema de ritmo até pelo menos metade da temporada. Com tantos núcleos a serem trabalhados, os episódios atropelam alguns aspectos interessantes enquanto perdem tempo demais em outros pouco inspirados. Acompanhar essa maturação da série exige um pouco de esforço, mas a recompensa ao final é bastante satisfatória.

Katherine Langford e Devon Terrell em cena de Cursed. Divulgação: Netflix.

Em fantasias medievais, o mundo onde a história se passa é um elemento extremamente importante. Aqui, esse aspecto consegue cativar a atenção do espectador logo de cara. É sempre interessante aprender mais sobre cada detalhe dessa comunidade e dos povos que dela fazem parte. Isso se reflete na pluralidade étnica do elenco, que é certamente um dos pontos fortes da série. De fato, a riqueza de universo e de personagens sempre foram os charmes das lendas arthurianas.

Por falar no elenco, os principais nomes desempenham suas funções muito bem. Katherine vende de uma maneira bastante crível todo o processo de crescimento de sua personagem. Passando da perda da ingenuidade até transformar-se numa rainha capaz de inspirar todos ao seu redor. Por outro lado, Skarsgård faz de seu Merlin o canalha que todos amam. Sua inteligência e suas várias camadas são interessantes. Quem mais sofre é Terrell, muito por conta do problema de ritmo citado anteriormente. Outro que também merece destaque é Peter Mullan na pele do execrável Padre Carden.

Essa pegada mais pop causa em Cursed uma dualidade de tons. Em determinados momentos, a história segue por um caminho mais maduro, tanto pela violência quanto pelas questões abordadas. Por outro lado, existe um espírito adolescente que acaba prevalecendo. Porém, é preciso frisar que a série não descamba para uma bobeira completa. Nos aspectos técnicos, o design de produção é bastante eficiente, embora os efeitos visuais oscilem bastante.

Em termos de comparação, Cursed está muito mais próxima de The Witcher do que dá intragável Carta ao Rei. Com uma mitologia bem trabalhada e personagens cativantes, a série tem tudo para agradar o público que busca um entretenimento acessível e de qualidade. O que pode abrir espaço para um futuro duradouro na grade da Netflix.