Mostrando um drama familiar de respeito, Atypical chega à sua 3ª temporada na Netflix mantendo o nível de qualidade
Tem várias séries originais da Netflix dignas de nota, e Atypical é uma delas. Falamos anteriormente da primeira temporada e como o programa lida bem com a questão do autismo, trazendo questionamentos e humanizando essa patologia que tem como maior inimiga a ignorância. A segunda consegue inserir ainda mais dramas na complexa família, e a terceira chegou há alguns meses no serviço de streaming.
A trama aborda a vida da família Gardner, que desde cedo precisou se adaptar à condição de Sam, um jovem com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Ele, por sua vez, está em constante luta para se adequar ao mundo fora da sua casa e os perigos que ele pode oferecer
A narrativa é certeira, se encaixando muito bem aos curtos episódios (cerca de trinta minutos cada), ou seja, há pouco espaço para enrolação. Os capítulos funcionam como uma espécie de diário do protagonista, que geralmente termina com um novo aprendizado ao final do dia. Poderia soar piegas, mas aqui funciona muito bem pois essa catalogação faz parte do perfil do personagem principal.
O mais legal dessa série é que ela consegue inserir os temas referentes a Sam de uma forma tão natural que Atypical acaba tendo um perfil de drama familiar que se sobressai em muitos momentos, e o roteiro cuida para dosar cada um.
Casey continua encantadora, experimentando o melhor e o pior que a adolescência pode oferecer. Seu triângulo afetivo composto também por Evan e Izzie ganha novos contornos aqui, e o desfecho desse ciclo consegue ser coerente. Destaque para a atriz Brigette Lundy-Paine, que está incrível no papel.
O maculado casamento de Elsa e Doug, os pais de Sam e Casey, continua sendo pauta, e a infidelidade ainda não foi esquecida – tampouco perdoada. É uma temática delicada, que às vezes pode cansar um pouco pelas idas e vindas, mas consegue mostrar uma das diversas facetas que a infidelidade possui. Elsa pode ter cometido o ato, mas ter se negligenciado em prol da família por anos também pode explicar muita coisa, assim como a desatenção de Doug com ela pode ser um elemento dessa equação. Os experientes Jennifer Jason Leigh e Michael Rapaport continuam formando um casal interessante.
Essa terceira temporada de Atypical reforça alguns temas, como a importância que é termos um núcleo de apoio em qualquer situação da vida. Infelizmente, estamos constantemente nos ferindo por diversos motivos, e esse suporte pode fazer toda a diferença para enfrentarmos as adversidades. Obviamente, a mensagem não se aplica apenas ao autismo e o roteiro cuida de nos lembrar disso constantemente.
Uma das principais novidades é a provação da amizade entre Sam e Zahid. Com seu jeito canastrão e descompromissado, o personagem de Nik Dodani conseguia trazer alívio cômico e contribuir bastante para o desenvolvimento de Sam, e nesta temporada, com todas as mudanças que ocorrem, a coisa vai um pouco além.
A principal mudança, no entanto, é a entrada de Sam na faculdade. É um universo totalmente novo que exige dele muito mais, e é gratificante ver ele tentando ser uma pessoa melhor apesar de qualquer coisa. Keir Gilchrist se sai muito bem no personagem, que eu gosto carinhosamente de imaginar como um Sheldon Cooper (da comédia The Big Bang Theory) com abordagem dramática. Em contraponto à sua adaptação universitária, temos Paige (Jenna Boyd), que se preparou muito para a faculdade dos sonhos mas se vê obrigada a dar um passo para trás.
Atypical é uma série incrível e que merece sua atenção. Seus temas abordados a coloca no nível do que há de melhor nas séries dramáticas produzidas, seja na Netflix ou fora dela.