This Is Us é uma aula de como fazer um episódio piloto

Um dos elementos mais importantes de uma série é o episódio piloto. É ele que define se a atração vai para frente ou não. Executivos dos estúdios, críticos de TV e até mesmo um público selecionado são escolhidos para testar a qualidade do primeiro episódio de uma série nova, tudo para garantir que as coisas estão nos eixos. Muitas vezes acontece de uma atração ser cancelada justamente por conta de seu episódio piloto, com os envolvidos alegando que nada pode ser feito para melhorar.

Alguns estúdios utilizam a tática do “vazamento” para testar a recepção do público alvo, o que eles gostaram, o que odiaram e por aí vai. Com as anotações em mãos, começa o processo de mudança. A série do Constantine passou por isso, quando o episódio piloto foi alvo de críticas, ocorreram mudanças no elenco e na abordagem da trama. Mesmo que isso não tenha impedido o cancelamento. Mas quando está tudo certo, começa o período de divulgação. E uma das séries que chamou a atenção nessa temporada de estreias foi This Is Us.

Após o fim do primeiro episódio, fica fácil de afirmar que estamos diante de uma verdadeira aula de como preparar o terreno para o restante da temporada. Na trama, conhecemos quatro pessoas distintas, mas que compartilham algo em comum: nasceram no mesmo dia. Até aí tudo bem, é algo que acontece direto nesse mundão azul. Mas a série vai brincando com a mística por trás desse fato. Será que elas estão conectadas por algo maior? Algo divino? O destino? E por aí vai. Outra ligação: todos estão completando 36 anos.

Jack (Milo Ventimiglia) e Rebecca (Mandy Moore) estão grávidos de trigêmeos, porém a gestação é de alto risco. Randall (Sterling K. Brown) é um empresário de sucesso, mas que guarda mágoa por ter sido abandonado por seu pai, ainda recém-nascido, em um quartel dos bombeiros. Kate (Chrissy Metz) sofre com a obesidade e os problemas com auto-estima, enquanto seu irmão Kevin (Justin Hartley) é um galã de uma comédia ridícula que está insatisfeito com o rumo de sua carreira. Pronto. Não posso revelar mais nada além disso, pois a beleza de This Is Us é revelar essas conexões aos poucos, pegando o espectador de surpresa.

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Após apresentar a premissa, ainda nos primeiros minutos, o foco do episódio passa a ser construir todo um clima dramático. E mais uma vez acerta em cheio. O grande problema de boa parte das séries de drama é não conseguir emocionar o suficiente. Parece que tudo vai bem, até que descamba em uma quantidade imensa de clichês sem profundidade. O primeiro episódio de This Is Us vai na contramão disso. Não existem cenas apelativas, para fazer todo mundo secar de tanto chorar. O roteiro e as atuações conseguem transmitir as situações com a carga emocional certa.

Claro, com a trilha sonora precisa em alguns momentos, é muito difícil não derramar algumas lágrimas. Outro acerto é a forma como temas corriqueiros são tratados, dando uma naturalidade cativante para a série. Não existem apenas momentos tensos e tristes, a vida não pode ser resumida apenas a isso. Também existe espaço para algumas risadas e momentos de descontração. Ninguém está fadado apenas ao sofrimento.

Também é bacana acompanhar como cada um reage de formas diferentes ao fato de estarem completando 36 anos. Jack está vivendo a melhor fase de sua vida, já Randall decide que é hora de confrontar os fantasmas do passado e procurar seu pai. Kate reúne seus últimos esforços para encarar a luta contra a balança e Kevin enfrenta aquela crise existencial que a maioria dos artistas conhece bem.

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Mas o episódio piloto também representa um grande problema para This Is Us. Ele é tão redondo, com cada peça bem encaixada, que fica difícil imaginar que os próximos episódios podem manter a mesma qualidade. Claro, é exigir muito que o restante da temporada mantenha o mesmo padrão. Mas essa é a expectativa que fica ao final de tudo. A primeira temporada terá 18 episódios, e mesmo que as coisas desandem, esse piloto seguirá sendo algo extremamente bem feito.