The Keepers e a conivência com a pedofilia abordada na Netflix

The Keepers, série original Netflix, trata sobre a terrível prática católica de ignorar denúncias sexuais

Você já se arrependeu por não ter tomado alguma atitude? The Keepers, série documental e exclusiva da Netflix, reflete sobre uma série de crimes e outros abusos praticados por pessoas ligadas a igreja católica que poderiam ter sido evitados, caso não tivesse sido mantida a velha e horrenda prática de acobertar tais crimes por parte das instituições que deveriam, acima de qualquer coisa, zelar pelo bem estar social.

The Keepers contempla inicialmente um crime ocorrido em 1969, quando a irmã Cathy Cesnik desapareceu, sendo encontrada morta dois dias depois. O assassinato continua sem solução até então, mas duas ex-alunas dela no colégio Keough High School (Baltimore) vão tentar desvendar o caso, contando com a ajuda de outras pessoas que participaram anteriormente como jornalistas (Tom Nugent e Bob Erlandson) e outras ex-alunas. Acontece que o caso vai muito além de um cruel assassinato, e o envolvimento da arquidiocese e do estado terão papel vital para que a verdade venha à tona.

As investigações de The Keepers. (Divulgação: Netflix)

A indignação causada por The Keepers se assemelha, em alguns momentos, à mesma de outros documentários como Making A Murderer (também da Netflix). Frente a dezenas de denúncias de violência sexual, tudo que a arquidiocese local fez foi, dentre outras coisas, tentar desqualificar o testemunho de pessoas abusadas na infância, sob a argumentação de que os fatos teriam ocorrido há muito tempo e de que as vítimas deveriam ter procurado ajuda antes. É fácil para quem está alheio a essa situação imaginar uma ação de socorro, mas acontece que não cabe a terceiros definir quando que a vítima está preparada para lidar com a situação e enfrentar todo tipo de julgamento que, como comprovado, pode aparecer.

É a partir daí que a história da irmã Cathy se relaciona. Ela era professora em Keough, e a partir do momento em que sua suspeita passou a ser uma certeza com promessa de atitude em relação a esses abusos, ela foi assassinada. Coincidência? Por favor…

Joseph Maskell (à esq.), padre pedófilo acobertado pela Igreja. (Dvilgação: Netflix)

Chama atenção também um outro assassinato ocorrido na mesma época e região, que foi o de Joyce Malecki. Além de não relacionar os crimes, algo um tanto óbvio dado as semelhanças de cada caso, a polícia de Baltimore negligenciou outras coisas na investigação. É nesse ponto que The Keepers usa o caso para retratar o excesso de burocracia por parte das autoridades, que não apenas usa de tais práticas para agradar alguns (como a igreja), mas também quando lhe for conveniente. Quando for interessante, o sistema tenta minar quaisquer chances de esperança que você tenha.

Às vezes, a vida nos dá a oportunidade de fazer o que é certo. Optar por não tomar uma atitude (ao invés de proteger os que mais precisam) por medo de repercussões e dano à imagem é a síntese da covardia que assola a convivência humana, tornando assim esse covarde num cúmplice. Assim como em Spotlight: Segredos Revelados, The Keepers toca (dado suas diferenças) numa feridas necessárias de cuidado, e que também não se tratam de casos isolados. Está em Boston, Baltimore, e em qualquer outro lugar onde o ser humano habite.