Room 104: a eficiência da simplicidade

Séries antológicas não são nenhuma novidade no circuito televisivo. Se a Netflix ajudou a popularizar Black Mirror, transformando a criação de Charlie Brooker em um hit mundial, obras como Contos da Cripta e Twilight Zone já dominavam esse formato. Outros destaques recentes são Fargo e American Horror Story (tão pop quanto Black Mirror). Aproveitando o estrondoso interesse do público por esse formato, a HBO lançou Room 104, que encontra seu poder justamente na ausência de grandiosidade de suas companheiras. Nesse caso, menos é mais.

Os irmãos Jay e Mark Duplass, que já haviam criado a comédia dramática Togetherness para o canal, transformam o quarto do título no personagem principal das mais variadas histórias. É inegável que existe uma certa mística em quartos de hotéis e os Duplass sabem como explorar isso. A premissa é básica, tendo como única limitação criativa as paredes do tal Room 104. Em 12 episódios de meia hora, somos convidados a espreitar por entre as venezianas desse pitoresco lugar. Experimentando sensações mistas.

O primeiro episódio, intitulado ‘Ralphie’, entrega um eficiente humor negro através das mãos da diretora Sarah Adinah Smith. Estrelado por Melonie Diaz, Ross Partridge e o jovem Ethan Kent, ‘Ralphie’ soa como um curta de terror que vai construindo sua atmosfera bizarra em doses homeopáticas. Para depois explodir em sequências desconfortáveis, que trabalham bem com os clichês do gênero. O riso nervoso da protagonista na cena final resume bem qual o impacto desejado no espectador.

Melonie Diaz em cena de Room 104 (Divulgação: HBO).

Optar por um elemento de horror logo no primeiro episódio foi uma decisão ousada. Ainda que Room 104 vá se aventurar por outros gêneros, é mais fácil impactar com o bizarro do que com o engraçado, por exemplo. Dessa forma, o público nunca consegue estabelecer uma zona de conforto. A curiosidade pelo próximo passo nunca vai cessar. E mesmo que a qualidade esteja abaixo do esperado, sempre existirá uma nova chance. Essa é a beleza das antologias.

Jay e Mark Duplass, veteranos da TV, conceberam Room 104 como um entretenimento rápido, mas com conteúdo. O formato e a duração dos episódios fisgam aquela parcela do público que busca um relacionamento sem muitas amarras. Não é para ser memorável, mas pode ser divertido. E como a série se recicla toda semana, qualquer um pode parar para assistir. É como se hospedar em um quarto de hotel, onde tudo pode acontecer. Inclusive nada ¯\_(ツ)_/¯

Room 104 vai ao ar na HBO todas as sextas-feiras.