Michiru era uma humana comum até que, de repente, se torna uma mulher-tanuki. Nesse universo, existe uma outra raça conhecida como ferais, que são animais humanoides. Como a humanidade odeia o que é diferente, esses ferais precisam de uma cidade própria chamada Animália (em português “Cidade Animal”), que foi construída especialmente para que eles pudessem viver em paz e sem preconceito. Lá, Michiru conhece Shirou, um homem-lobo que odeia humanos. Apesar disso, um começa a aprender com o outro enquanto buscam o motivo pelo qual ela se transformou em Feral – algo que não deveria ser possível.
Antes de tudo, não compare BNA: Brand New Animal com Beastars – O Lobo Bom, pois, tirando o tema furry (relacionado a produções onde os personagens possuem características antropomórficas), a plataforma de exibidora (Netflix) e o fato de termos um lobo e uma presa como protagonistas, não tem nada a ver.
Os personagens são ótimos, bem construídos, desenvolvidos e cada um, logo de cara, tem uma apresentação que favorece as suas características e já podemos conhecê-los rapidinho. Assim, quando aparecem novamente, você já sabe o jeito de cada um.
Michiru é muito fofa, e a mistura entre determinação e gentileza a fazem ser uma ótima protagonista. Ela também não é nada boba, o que normalmente acontece com mulheres em animes. Aliás, a representatividade feminina está maravilhosa, com várias personagens fortes que possuem características próprias e não há sexualização (talvez em uma cena, mas ela tem um propósito específico).
Shirou é forte, calado e misterioso. Bem típico de homens de anime que são bem fortes e gostam de proteger os outros. A parte boa? Ele não tenta superproteger Michiru. Na verdade, em diversos momentos ele a acolhe como parceira e a escuta de verdade. Não há o típico drama de “vou proteger você”. E quando há, é igualado. O passado dele é interessante, e você entende todas as suas motivações. Aliás, sua primeira aparição é bem engraçada e eu não estava esperando que ele fosse um dos personagens principais, então fiquei feliz com essa decisão.
Temos também a prefeita, uma feral forte e inteligente, que se lançou nessa empreitada de criar Animália e um lugar seguro para todos de sua raça – ela é uma cientista brilhante, tendo lutado muito pelo seu lugar no mundo para que outros pudessem ter os mesmos direitos. Além de outros personagens pontuais que aparecem e prefiro não citar, para não dar spoiler.
O anime mistura uma pegada de ação e mistério, intercalando com episódios que existem para nos mostrar mais sobre a realidade dos ferais, mas sem esquecer da trama principal, contribuindo para enriquecer mais a história. As cenas de luta de BNA são boas, mas poderiam ser melhores, tendo muita repetição de quadros, reaproveitando os mesmos momentos, talvez numa forma de economizar, já que os traços e a animação são de boa qualidade.
A cidade de Animália é encantadora, mas logo você descobre que nem tudo são flores. Existe um grupo que é anti-feral, o que causa muitos problemas não só para a polícia, como para Shirou, que se esforça em combatê-los (ele se intitula como sendo “protetor de ferais”). Além disso, a cidade é como outra qualquer. Se você for esperto, você vive bem. Ao pisar na cidade, Michuru já é assaltada, e depois precisa lidar com uma máfia de mulheres – que tem um arco muito interessante, e eu gostaria que tivesse sido mais explorado -, encontramos com as favelas, com apostas, jogo sujo, alcoólatras… Todo tipo de ser convive ali, da mesma maneira que em uma cidade humana, o que faz Michiru perceber que ferais e humanos não são tão diferentes quanto achava.
A narrativa é interessante, apresentando bem vários aspectos daquele universo, assim como seus personagens, com muito carisma e sensibilidade. Sinceramente, eu assisti rapidinho. São 12 episódios, cada um com mais ou menos 20 minutos, talvez um pouco mais. É uma história distópica, e todos pensam logo em Beastars, mas, aqui, o foco principal não é carnívoros vs. herbívoros como ocorre na sua irmã de Netflix, e sim humanos contra ferais. Além disso, Brand New Animal busca mais leveza em cada episódio, nos apresentando até mesmo problemas mais sérios de maneira mais simples, mesmo aprofundando o assunto.
O único lado realmente negativo, e que atrapalhou a minha experiência, é a demora da história para chegar ao clímax – já que estavam explicando diversos outros aspectos da trama primeiro. E por que isso é ruim? Pois, na hora do vamos ver, ele é condensado e fica um pouco corrido. Eu queria mais do problema, e menos facilidade na resolução, mas, ainda assim, eu consegui gostar de como tudo ocorreu.
Por fim, BNA: Brand New Animal é um anime para se assistir sozinho ou em família, com a certeza de que todes vão se divertir.