Setembro Amarelo: vida, depressão e cultura pop (com Tayná Sousa)

Porque falar do Setembro Amarelo sem olhar o próprio ambiente é hipocrisia

A campanha do Setembro Amarelo em 2016 chegou ao fim, mas a ideia de promoção do diálogo precisa continuar sempre. Ao longo da vida não tive que lidar com esse problema de forma direta, mas desde cedo sempre reparei no sofrimento que o suicídio traz para as pessoas, como pude observar em casos envolvendo familiares de amigos.

Tal ato pode ser motivado por diversos fatores. Mas um caso que chama muito atenção é o da depressão e o risco que essa doença acarreta. Segundo a OMS, 15 a cada 100 pessoas decidem tentar por um fim na própria vida, sendo que 121 milhões sofrem dessa enfermidade ao redor do mundo.

Conversamos com nossa amiga e colega Tayná Abreu Sousa, a mesma dos vídeos super legais do Elas no Controle. No papo, ela gentilmente nos contou sobre sua experiência com a depressão (leia o box ao lado), o problema da normatividade religiosa e o privilégio de poder contar com a ajuda de pessoas na família que trabalham na área da psicologia (sua mãe é psicopedagoga).

Quando e como você começou a perceber seu problema?

Tayná: Sempre fui muito ansiosa com tudo, mas percebi que tinha algo errado ainda no colégio em 2011 (14 anos). Eu não sentia mais vontade de sair e nem de fazer nada.

TaynáA ajuda demorou para aparecer? Você procurou alguma pessoa como amigo ou familiar?

Minha mãe é psicopedagoga. Ela percebeu e já me encaminhou para um psicólogo, daí percebi muito mais coisas lá (com o tratamento). Atualmente não tenho feito tratamento, mas estou com alguns problemas de autoestima muito baixa, me recuperando de projetos pessoais que não deram certo.

E você se apegou a que, qual foi seus meios de motivação durante o tratamento: Trabalho? Filmes?

Às vezes filmes, mas tenho assistido muito a séries de TV como Breaking Bad, How I Met Your Mother e Sons of Anarchy. Muitos jogos também como World of Warcraft, Dota. Acabo trocando os jogos por quase todas as outras atividades.

Tendo sua mãe como profissional da área, além da sua própria experiência com o tema, você conheceu pessoas com problemas semelhantes ou até mais intensos?

O que mais me marcou é o caso de um amigo meu, que sofre de depressão e tentou suicídio algumas vezes após romper o relacionamento com a namorada.

Sou amiga de ambos amigos há muito tempo, desde o inicio do relacionamento e os dois sofrem de depressão. Participei de várias discussões entre eles, onde ela queria ficar sozinha e ele também (ao mesmo tempo que eles queriam continuar juntos) e isso gerava uma confusão muito grande. Ele me contou que nos momentos mais íntimos eles combinavam formas de tirar a própria vida. Então dá pra imaginar: o fim do relacionamento foi um potencializador para ele tentar o suicídio. Ele me contava as formas possíveis de fazer isso e eu tinha que ouvir, sem poder dar palpite. Nessa situação mais séria você não consegue mudar o pensamento da outra pessoa facilmente, então apenas conversei com ele, chegando a escrever numa folha coisas que ele deveria fazer antes do suicídio, como voltar a falar com alguém ausente há muito tempo, e outras medidas usadas por profissionais da área. Hoje ele está muito melhor, conversa com as pessoas e se entendeu com a ex, e são amigos.

Isso mostra de certa forma como não podemos querer impor e forçar situações com pessoas que passam por esse problema.

Pois é, esse negócio de tentar convencer de que é errado e demonizar a pessoa é um pouco cruel. As pessoa não sabem ao certo pelo que você está passando e as dores que está sentindo. Há muita pressão, às vezes querem enfiar na sua cabeça que você está errado, isso só piora o problema.

Vivemos muitas vezes num ambiente religioso, e por menos conservador que possa ser é muito comum ouvirmos expressões como “quem faz isso não tem amor consigo mesmo”, além de outros julgamentos que servem para demonizar e condenar uma pessoa precisa de ajuda. Você passou por situações assim?

Minha mãe também sofre de depressão, mas segue um tratamento com mais regularidade que eu. Ela mesma já chegou a me dizer que isso era “falta de Deus” mas hoje em dia não fala mais essas coisas. Mas em relação à família todos respeitam, ninguém disse nada.

Talvez o fato de ser um caso interno conscientize algumas famílias e force essas pessoas a no mínimo não meter o bedelho com opiniões prejudiciais.

Exato.

Você já teve pensamentos suicidas?

Sim, já cheguei a pensar na possibilidade. Mas nunca a ponto de planejar.

O objetivo do Setembro Amarelo é promover o diálogo, mas às vezes por alguns fatores ele não atinge a quantia de pessoas que gostaríamos. Supondo que ao menos uma pessoa que passe por problemas leia isto, qual mensagem você daria?

Para quem passa pelo problema: que não desista, você não está sozinho e por mais que você queira se isolar, existe alguém passando pela mesma coisa. Também para quem convive com alguém com esses problemas: procure conhecer mais, escutar e se colocar no lugar do outro.