Antes e depois de Jessica Jones

Existia um universo de super heróis e ele foi desbancado. Jessica Jones trouxe, antes de qualquer coisa, uma nova forma de encarar esse universo que tanto amamos, mas infelizmente, era monótono. Vivíamos uma sensação maravilhosa de ver nossos heróis mais amados saindo das páginas e dominando as telas, mas esse sentimento bom já não era suficiente para nos prender. O roteiro nos convence de que você não precisa de uma vilão semanal para prender sua audiência ou preencher um espaço que seu arco principal não é capaz de suprir, essa é a vantagem de seriados produzidos para a Netflix.

Como todos já sabem, a série é baseada na HQ Marvel Max, série de quadrinhos para um público mais maduro. A trama está distribuída do número 1 ao 28 e traz o Homem-Púrpura, vilão capaz de controlar as pessoas.  Mas o foco principal da série não é uma luta eterna entre vilão e mocinha, são as relações estabelecidas numa cidade atormentada, os traumas, o controle e todas as consequências do que é feito por vontade própria ou não. O roteiro dos quadrinhos por Brian Michael e as artes por Michael Gaydos, são antes de qualquer outra coisa, muito sensoriais. Os trejeitos, as cores, os flashbacks e ambientações, tudo foi muito bem traduzido para a série e quase nada se perdeu. Você deve ver e sentir Jessica Jones. Na maior parte do tempo é como se você habitasse a cabeça atormentada de ex heroína, alcoólatra e investigadora paranoica, no fim das contas isso te traz um nível profundo de empatia com a protagonista.

A melhor parte de tudo foi ver uma protagonista feminina, cercadas de outras personagens femininas igualmente poderosas, apesar de humanas, mas não mudando a maneira da história ser conduzida. Ela não precisa se reafirmar, levantar bandeiras ou dar discursos, suas ações transmitem tudo isso. Afastamos o modo de ver um homem ou uma mulher e enxergamos apenas pessoas, cada um com suas motivações, medos, fraquezas e conquistas. Gênero não chega a ser nem um backgroud, é simplesmente uma coisa que não faz a mínima diferença, esse é o melhor jeito de abordar essa questão, não abordando. Homens, mulheres, com poderes ou sem, temos sempre uma coisa em comum, somos humanos.

No fim das contas temos um trabalho incrível, trama bem amarrada, personagens envolventes e uma grande expectativa para a segunda temporada.